CUTIVO DA UVA
CULTURA DA VIDEIRA
1.Introdução
Em função de a uva tratar-se de fruta cultivada há séculos,
com mercados consolidados tanto para o consumo na forma de fruta fresca como na
forma de vinho, seu cultivo encontra-se espalhado por todos os continentes, mas
com nítida superioridade de países europeus, como Itália, França e Espanha.
Fora desse bloco, destacam-se os Estados Unidos e a Turquia. Já no Brasil os
estados que mais se destacam são, o Estado do Rio Grande do Sul, São Paulo,
Paraná, Santa Catarina e Na região do Trópico Semi-Árido do Brasil e, mais
especificamente, no Vale do Submédio São Francisco.
O cultivo de uvas para o consumo in natura adquiriu
relevância econômica no plano internacional no final da década de setenta,
quando o avanço nas tecnologias aplicadas à produção permitiu obter e ofertar
um produto de qualidade nos diferentes mercados consumidores, favorecendo o
incremento constante do consumo e exportação.
Os fatores técnico-econômicos de fundamental importância
para o desenvolvimento de uma viticultura economicamente viável para fins de
exportação são os seguintes:
Plantio de
cultivares adaptadas às condições climáticas e que tenham aceitação pelo
mercado consumidor;
Técnicas
culturais mais adequadas à(s) cultivar(es) explorada(s);
Avaliação precisa
dos custos de implantação e produção, assim como dos mercados consumidores;
Implantação de
adequada infra-estrutura para colheita e embalagem do produto, com conservação;
Frigorífica;
Disponibilidade
de mão-de-obra especializada;
Montagem e
operação de uma eficiente estrutura de comercialização;
Disponibilidade
de adequadas vias de acesso aos locais de embarque;
Acesso a linhas
de crédito para implantação dos vinhedos e construção de infra-estrutura de
packing house.
Um estudo minucioso de tais fatores é indispensável para
obter-se êxito com a produção de uvas para exportação. A inexistência ou
deficiência de um destes fatores, numa região que deseja desenvolver uma
viticultura tecnificada e rentável, compromete os futuros empreendimentos com
problemas não só técnicos, mas principalmente econômicos, pela falta de
rentabilidade do próprio processo produtivo.
Pretende-se, com este trabalho, ressaltar o desenvolvimento
de um processo produtivo que abranja todos os fatores associados à produção de
uvas para a exportação.
2. História da Viticultura
Segundo os geólogos, foi na era Cenozóica, que se processou
há 100 milhões de anos, no período Quaternário que o homem começou alimentar-se
de negros cachos de uvas. Hedric (1924) menciona achados freqüentes de sementes
de videira de permeio com vestígios das populações pré-históricas e cujos
frutos constituíram importante parte do seu magro cardápio.
Provavelmente a atual Groenlândia e outras regiões
hiperbóreas são o centro paleontológico de origem da videira, isto é, foi
nessas áreas que se encontraram os fósseis mais antigos de plantas ancestrais
das atuais vides cultivadas.
Do mencionado centro, as videiras primitivas foram pouco a
pouco ganhando as terras meridionais, seguindo duas direções principais: uma
Américo-asiática, Outra euro-asiática. Deste último percurso é que se origina a
Vitis sezannensis, consagrada como a mais importante Vitis terciária, elo da
evolução para a Vitis vinifera – a videira da atualidade.
3. Clima
O clima possui forte influência sobre a videira, sendo
importante na definição das potencialidades das regiões. Ele interage com os
demais componentes do meio natural, em particular com o solo, assim como com a
cultivar e com as técnicas agronômicas da videira.
As videiras européias (Vitis vinifera L.) são, na sua
maioria, muito sensíveis ao ataque de doenças fúngicas, cuja incidência está
estreitamente relacionada com as condições climáticas de temperatura,
precipitação e umidade relativa.
Em decorrência destes fatores, a viticultura disseminou-se
em regiões de clima árido ou semiárido, com média de precipitações abaixo de
800 mm anuais, e que, além disto, apresentam durante o ciclo fenológico
temperaturas elevadas, baixa umidade relativa, pouca nebulosidade e alta
insolação.
3.1. Temperatura
Temperatura do ar apresenta diferentes efeitos sobre a
videira, variáveis em função das diferentes fases do ciclo vegetativo ou de
repouso da planta, conforme exposto a seguir.
3.2. Pluviometria
Aprecipitação pluviométrica é um dos elementos
meteorológicos mais importantes na viticultura. A videira é uma cultura
bastante resistente à seca. Para a videira influem não somente a quantidade
total de chuvas, mas também sua distribuição ao longo do ciclo vegetativo. As
chuvas de inverno têm pouca influência sobre a videira. É importante que os
solos apresentem disponibilidade hídrica adequada no período de brotação das
plantas. Durante a primavera, as chuvas são importantes para o desenvolvimento
da planta, porém, em excesso, podem favorecer o desenvolvimento de algumas
doenças fúngicas da parte aérea, bem como afetar fases importantes da videira,
como a floração e a frutificação, causando baixo vingamento de frutos e
desavinho.
3.3. Umidade Relativa
A importância da umidade relativa do ar está diretamente
relacionada com o estado fitossanitário da cultura da videira. Quando a umidade
do ar é baixa, a maioria dos fungos não encontra um ambiente favorável para se
desenvolver. Com isto, obtêm-se uvas mais sadias, sem o uso excessivo de
defensivos.
3.4. Luminosidade
A videira é uma planta exigente em luz. O manejo do dossel
vegetativo do vinhedo deve proporcionar uma boa exposição foliar à radiação
solar. Durante o período de maturação das uvas a evolução do teor de açúcar é
favorecido peça ocorrência de dias ensolarados.
3.5. Ventos
No período das chuvas, a ocorrência de ventos suaves é
benéfica, por facilitar a secagem das folhas, reduzindo a incidência do ataque
de fungos. Já os ventos fortes e constantes são, ao contrário, muito
prejudiciais, por dificultarem a condução das plantas e produzirem queimaduras
nas folhas e danos mecânicos nos frutos.
4. Cultivares
A viticultura é uma atividade bastante diversificada no
mundo e também no Brasil. A finalidade da exploração, a região de cultivo, o
solo e o clima predominantes influenciam diretamente na escolha das cultivares
a serem utilizadas.
A diversidade genética encontrada tanto dentro das espécies
do gênero Vittis como entre elas é grande, permitindo , quase sempre, a escolha
do material mais adequado, entre as centenas de cultivares existentes na
cultura. Esse número é ampliado ano a ano como resultado de diversos programas
de melhoramento no mundo.
4.1. Porta-enxertos
Mais de uma dezena de porta-enxertos são utilizados na
viticultura das regiões temperadas do Brasil. Todavia, na escolha do
porta-enxerto também devem ser considerados fatores como a fertilidade do solo
e a susceptibilidade do porta-enxerto a doenças e pragas ocorrentes na região
ou local de plantio do vinhedo. Em certos casos a cultivar também pode ser
determinante na escolha do porta-enxerto. A pesar da disponibilidade razoável
de bons porta-enxertos, é preciso mencionar que cada um deles tem sua deficiência
intrínseca e só a experimentação regional pode determinar com regular precisão
qual é o melhor. Seja como for, a principal recomendação técnica é a de nunca
usar um único porta-enxerto em grandes áreas.
Tropical (IAC 313)
Originário do cruzamento entre Go/ia e Vitis cinerea, herdou
desta o desenvolvimento vegetativo contínuo, característico das videiras de
clima tropical. Daí ser um porta-enxerto muito vigoroso, com perfeita adaptação
às condições climáticas tropicais, com ramos que lignificam tardiamente e
dificilmente perdem as folhas. Adapta-se bem aos diferentes tipos de solos com
boa tolerância aos nematóides, e suas folhas são resistentes às principais
moléstias.
Jales IAC 572
Obtido do cruzamento entre Vitis caribea e 101-14 (Vitis riparia
x Vitis rupestris). Porta-enxerto vigoroso, que se adapta bem tanto em solos
argilosos como em arenosos. Com ótimo enraizamento e pegamento, apresenta
folhas resistentes às principais moléstias.
Contudo esses porta-enxertos podem ser substituídos por
outros, que se apresentem resistentes a nematóides, embora menos vigorosos, mas
que concorrem para uma produção de maior qualidade, como: Dog Ridge, Salt
Creek, SO-4, R-99, Harmony.
1103 Paulsen
Este porta-enxerto pertence ao grupo berlandieri x rupestris.
Teve grande difusão no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina nos últimos anos
porque apresenta tolerância à fusariose, doença comum nas zonas vitícolas da
Serra Gaúcha e do Vale do Rio do Peixe. É vigoroso, enraíza com facilidade e
apresenta boa pega de enxertia. Tem demonstrado boa afinidade geral com as
diversas cultivares. É o porta-enxerto mais propagado atualmente na região sul
do Brasil. Entre os viticultores também é conhecido como Piopeta ou Piopa.
Rupestris du Lot
Trata-se de uma variedade de V. rupestris, característica
pelo hábito de crescimento ereto, sendo, por isso, conhecido pelos agricultores
da Serra Gaúcha pelos nomes "Vassourinha", "Pinheirinho" ou
"Arboreto". É um porta-enxerto vigoroso, com sistema radicular
pivotante, adaptado a solos profundos. Apresenta fácil enraizamento, boa pega
de enxertia e induz alto vigor à copa.
SO4
Este porta-enxerto do grupo berlandieri x riparia foi
introduzido na década de 1970, sendo muito difundido no Rio Grande do Sul nos
anos subsequentes. Em geral confere desenvolvimento vigoroso e boas
produtividades à maioria das copas. Atualmente é muito pouco propagado devido à
alta sensibilidade à fusariose e a problemas de dessecamento do engaço, uma
anomalia verificada em certos anos, devido a desequilíbrio nutricional
envolvendo o balanço entre potássio, cálcio e magnésio. Estes problemas não têm
sido constatados na região de Livramento, onde o solo é profundo e bem drenado.
4.2. Cultivares de uvas para mesa
Itália
Essa cultivar está apta a produzir, em plantios comerciais,
cachos volumosos com um peso médio de 500 g. Quando os cachos são bem raleados,
produzem bagos grandes, com película grossa de coloração amarelo-âmbar, e sabor
levemente moscato. Se for bem conduzida em sistema de latada, a produtividade
dessa cultivar chega a 40t por hectare em um ano
Piratininga
Em plantios comerciais, essa cultivar também pode produzir
cachos volumosos, com um peso médio de 450g, não sendo necessário um desbaste
muito rigoroso. Os bagos são grandes, de coloração rosa-avinhado, com película
grossa e sabor neutro, levemente ácido. Sua produtividade atinge até 40t por
hectare em um ano, quando a videira é bem conduzida em sistema de latada
Niágara Branca
É a principal uva americana utilizada para a produção de
vinho de mesa, sendo muito apreciada pelos consumidores devido ao intenso aroma
e sabor característico que confere ao vinho. Além de expressiva área cultivada
nas principais regiões produtoras do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, a
Niágara Branca encontra-se difusa em pequenas áreas em várias partes do sul do
Brasil e, também, no Sul de Minas Gerais, onde é empregada na elaboração de
vinhos caseiros e, também, para consumo in natura. Niágara Branca é uma
cultivar fértil e bastante resistente às doenças fúngicas. Pode ser plantada de
pé-franco mas normalmente é enxertada.
Niágara Rosada
Surgiu de uma mutação somática natural da Niágara Branca, no
município de Jundiaí, (SP), em 1933. Possui as mesmas características de
Niágara Branca, exceto a cor, mais atraente ao consumidor.
Isabel
Apesar de todos os esforços para substituir esta cultivar
desde a década de 1930, a Isabel persiste com 50% da uva produzida no Rio
Grande do Sul e é a principal cultivar plantada em Santa Catarina. Origina
vinho típico, em anos chuvosos pouco coloridos, apreciado por uma faixa
específica de consumidores. O suco de Isabel é a base do suco brasileiro para
exportação. É uma cultivar de Vitis labrusca, muito bem adaptada às condições
climáticas do Sul do Brasil. Fornece produções abundantes em poda curta;
resistente ao oídio e às podridões do cacho, porém está sujeita a perdas pela
incidência de antracnose e de míldio. Normalmente é enxertada mas pode ser
plantada de pé-franco; vinhedos de pé-franco normalmente exigem um período de
formação mais longo mas atingem 80-100 anos com produções econômicas.
Isabel Precoce
É um clone de Isabel, decorrente de mutação somática,
selecionado em 1993 num vinhedo comercial situado no município de Farroupilha.
Apresenta as características gerais da tradicional cultivar Isabel, entretanto,
tem a maturação antecipada em 35 dias. Foi avaliada na Embrapa Uva e Vinho e a
partir do ano 2000 começou a ser difundida como alternativa para a ampliação do
período de produção e processamento de uvas para vinhos tintos de mesa e suco
de uva. As condições para cultivo de Isabel Precoce são as mesmas da cultivar
original.
Concord
É a labrusca mais procurada para a elaboração de suco pelas
características de aroma e sabor que confere ao produto. Em geral é cultivada
de pé franco com bons resultados. É bastante produtiva quando em poda longa.
Apresenta alta resistência ao míldio e ao oídio, porém, mostra-se um pouco
sensível à antracnose, doença que pode causar perdas se não for
convenientemente controlada na fase inicial do crescimento vegetativo. A
película da uva é fina, por isso, bastante susceptível ao rachamento de bagas
quando ocorre tempo chuvoso na fase de maturação. Certos vinhedos apresentam
abortamento floral com prejuízos significativos. As causas deste problema ainda
não são conhecidas, podendo ser de ordem nutricional ou de origem
fitossanitária. Concord é cultivada principalmente nos três Estados do Sul,
sendo também conhecida como Francesa e Bergerac.
4.3. Cultivares de uvas para vinho e/ou suco
Uvas para vinho devem apresentar características que as
recomendem para esse uso, como boa produção, coloração agradável, sabor vinoso,
aroma típico. Por definição clássica, vinho é o produto da fermentação dos
frutos de Vitis vinifera. Entretanto, muitas cultivares de veníferas o
híbridos, apesar de aptidão razoável para determinado fim, acabam sendo
utilizadas para outros fins.
Cabernet Franc
De origem francesa, é a principal vinífera tinta cultivada
no Brasil (RS). De grande vigor, as plantas produzem relativamente pouco. Os
cachos são alados, pequenos (70-150g). As bagas são pequenas, esféricas,
pretas. Maturação média a tardia. Ela exige um bom controle fitossanitário.
Apesar de suas fracas características agronômicas, o vinho produzido é de
primeira qualidade.
Riesling Itálico
Produtora de vinhos muito populares no Brasil, é conhecida
erroneamente por esse nome. É originária da França (Meslier de Champagne), ao
contrário da original Riesling ( Renano), que é de Reno, na Alemanha. De cachos
médios, cônicos, compactos. Bagas pequenas a média, redonda,
amarelo-esverdeadas. Polpa deliqüescente, aromática.
Bordô
È o nome comum de cultivar Ives, de origem incerta, obtida
por Henry Ives. Também chamada de Folha de Figo, na região de Caldas, MG, é
cultivada em área considerável nos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina
e Paraná. De bom vigor e produtividade, apresenta alta resistência às doenças
fúngicas. Os cachos são pequenos (150g), cilíndricos, às vezes alado e
medianamente compacto. As bagas são pequenas (2 a 3g) , arredondadas, pretas,
com polpa de textura fundente a média e sabor foxado.
Seyve Villard 5276
Também denominada Seyval, esta cultivar é uma híbrida
complexa altamente produtiva e que apresenta alto potencial de açúcar,
normalmente atingindo mais de 20ºBrix. Resiste ao míldio mas é sensível à
antracnose, necessitando controle no início do ciclo vegetativo. Também é
sensível à filoxera galícola, às vezes exigindo tratamentos para seu controle.
Deve ser enxertada e exige adubações abundantes para suportar as grandes
produções sem perda significativa do vigor e da longevidade. Origina vinho
branco de mesa de muito boa qualidade. Durante algum tempo foi comercializada
no Rio Grande do Sul como uva fina, em geral como Sauvignon ou como
Riesling. Os dados apresentados podem
variar significativamente de ano para ano e de local para local,
além da possibilidade de variações devidas ao sistema de
manejo empregado no vinhedo.
Couderc 13
Introduzida na década de 1970 pela Estação Experimental de
Caxias do Sul, foi difundida com relativa facilidade por ser muito rústica e
produtiva. O vinho é pouco ácido e neutro em sabor, podendo ser cortado com
outros vinhos comuns. É cultivada no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina,
sendo que resultados de pesquisa a indicam como opção também para o Sul de
Minas Gerais. É uma cultivar resistente às doenças fúngicas, entretanto, apresenta
baixo potencial glucométrico.
4.4. Cultivares sem sementes
Dois mecanismos naturais dão origem ás cultivares de uvas
sem sementes, também chamadas de apirenos:partenocarpia e estenospermocarpia.
Mundialmente, o interesse por uvas sem se¬mentes aumenta cada vez mais no
mercado consumi¬dor de frutas. Entre as cultivares comercializadas estão:
IAC 457-11 “Paulistinha”
Descendente de Niagara Branca com Sultanina. A planta é
vigorasa, apresenta ciclo curto e produtividade média. Os cachos são méidios e
cilíndricos, pesando em média 200-300 g, necessitando de desbaste de 20% das
bagas; resistência pequena a média ao transporte para a comercialização. Bagas
trincante, forma arredonda, sabor que lembra frutas tropicais; bagas carnosas,
boa aderência ao pedicelo. Essa variedade pode ser conduzida em espaldeira e
latada, exigindo poda média à longa ( quatro a oito gemas). Afinidade de
enxertia normal para Ripária do Traviú e IAC 766.
Thompson Seedless (Sultanina)
Esta cultivar é originária da Ásia Menor e foi cultivada na
Califórnia, pela primeira vez, por Wilson Thompson, há mais de 100 anos. È
conhecida por outros nomes, como Sultanina, Sultana ou Kishmish oval.
Seus cachos são grande, pesando em média 400-600g,
acentuadamente alados, cilindro-alongados, compactos. As bagas são uniformes,
de tamanho médio, pesando em média 4-6g, ovalalongadas, cor esverdeada ou
levemente dourada quando bem maduras, sem sementes, textura firme, sabor nobre.
São de maturação média. As plantas são muito vigorosas e produtivas, devendo
ser podadas em ramos bem longos (15 a20 gemas). Bem adaptadas a áreas de
intenso calor, são muito plantadas no deserto da Califórnia e Chile.
Há, pelo menos, 20 anos, a área plantada com Thompson
Seedless na Califórnia supera os 80.000ha.,dos quais cerca de 35.000 a 40.000
são exploradas como uva de mesa.
Perlette
Esta cultivar foi obtida, na Califórnia, por Olmo, em 1936,
do cruzamento entre Regina dei Vigneti e Sultanina Marble. No Nordeste do
Brasil, as plantas dessa cultivar são de vigor mediano, produzindo em média 30
cachos por planta. Os cachos são de tamanho médio (250 a 350g), compactos,
cônicos e alados.
Os bagos são pequenos, arredondados e de coloração
verde-amarelada. A polpa é crocante e de sabor levemente moscato. Um tamanho de
18 mm de diâmetro, adequado para comercialização, é atingido com duas
aplicações de 20ppm de ácido giberélico.
Atinge uma produtividade média de 20 t por hectare em dois
ciclos por ano. A precocidade dessa cultivar é sua característica marcante.
5. Propagação
Normalmente, a videira é propagada de forma vegetativa por
estaquia e enxertia.
5.1. Seleção das estacas
As plantas destinadas ao fornecimento das estacas serão
selecionadas, a priori, de acordo com as seguintes características: crescimento
vigoroso, alta produtividade, bom aspecto sanitário (livres de doenças e de
pragas) e devem apresentar ramos bem lignificados e formados.
5.2. Preparo do material para estaquia
As estacas que se destinam ao plantio em viveiro ou
diretamente no campo são cortadas com 25-30 cm de comprimento e com duas a três
gemas.
O corte da base das estacas é feito sobre o nó; o do ápice é
feito três a quatro centímetros acima da gema superior, o que evita o
ressecamento da mesma. As gemas que ficarão enterradas são eliminadas, para que
haja maior absorção de água, facilitando o enraizamento e evitando a emissão de
ramos ladrões.
5.3. Preparo do material para enxertia
Produtora
Os enxertos ou garfos são fragmentos de vara da cultivar
produtora que apresentam duas gemas. A extremidade superior é cortada reta,
três a quatro centímetros acima da gema, e a inferior é cortada em forma de
cunha.
A seguir enrola-se o enxerto com fita plástica, deixando-se
somente as gemas e a cunha descobertas. A extremidade superior deve ser bem
protegida, para evitar-se o dessecamento do enxerto.
Porta-enxertos para enxertia de mesa
São fragmentos de vara da cultivar escolhida como
porta-enxerto. Medem em torno de 25 - 30 cm e possuem duas a três gemas. O
corte inferior é feito bem junto ao nó e o superior 6 - 8 cm acima da gema
superior. As gemas são eliminadas para favorecer o enraizamento e também para
evitar que haja emissão de ramos ladrões.
Porta-enxertos para enxertia de campo
As mudas de porta-enxertos são plantadas no campo e seus
ramos, em número de três, são conduzidos na vertical. Todas as brotações
secundárias são eliminadas, o que favorece o engrossamento dos ramos que serão
enxertados. Por ocasião da enxertia, cortam-se dois ramos a 20 cm do solo e
eliminam-se todas as folhas abaixo do corte.
5.4. Enxertia
A enxertia consiste na união do enxerto com o
porta-enxerto,já devidamente preparados. Na enxertia de garfagem de fenda
cheia, o enxertador deve observar a seguinte seqüência:
a) Cortar
verticalmente a estaca ou os ramos do porta-enxerto, abrindo uma fenda de dois
a três centímetros, sem atingira nó imediatamente abaixo do local do corte;
b) Introduzir
nessa fenda o enxerto com a extremidade inferior cortada em cunha;
c) Certificar-se
do estabelecimento de contato entre as cascas do enxerto e do porta-enxerto,
ainda que tal contato só ocorra de um lado. Neste caso, a gema do enxerto
próxima à cunha deve ficar voltada para o lado em que as cascas se unem;
d) Após a
colocação do enxerto na fenda do portaenxerto, fixaras mesmos com fita de
plástico, para evitar um possível deslocamento do enxerto, o que prejudicaria a
enxertia.
Na enxertia de campo, pode-se utilizaras plantas de
porta-enxerto, com os ramos verdosos e material do enxerto em início de
lignificação pois, segundo observações feitas, a cicatrização se processa com
maior rapidez e de maneira mais uniforme, não se produzindo, aparentemente,
nenhuma necrose dos tecidos.
A operação de enxertia pode ser realizada em qualquer época
do ano; o crescimento da muda, entretanto, é menor no período mais frio, ou
seja, de meados de maio a agosto. Os processos de enxertia citados apresentam
alto índice de pega. Sugere-se, então, a enxertia de mesa por apresentar as
seguintes vantagens:
É possível não
só antecipar em três meses ou mais a primeira colheita, como tornar a formação
da muda mais econômica;
Através da
seleção das mudas que formarão o vinhedo, obtém-se maior homogeneidade da área;
Há a redução na emissão de ramos ladrões
provenientes do porta-enxerto;
É possível conseguir plantas vigorosas, semelhantes às
obtidas com a enxertia de campo.
6. Estabelecimento do Vinhedo
O que se pretende com o cultivo da videira é produzir uvas
durante muitos anos, para isto é importante que o solo da área a ser implantada
seja bem preparado e que nele se façam previamente todas as melhorias
necessárias, antes da instalação dos sistemas de condução e irrigação, e do
plantio das mudas.
6.1. Localização
O vinhedo deverá ser localizado em área com topografia
apropriada para irrigação. Deve-se fazer um estudo criterioso das
características do solo com relação a textura, profundidade e fertilidade. Os
solos que apresentarem um perfil pouco profundo, com menos de um metro, devem
ser descartados para o cultivo de uvas, pois a videira não se adapta a solos
mal drenados e com lençol freático superficial.
As fileiras de plantio devem ser orientadas no mesmo sentido
dos ventos dominantes, pois as videiras se ressentem com fortes rajadas de
vento, que lhes são prejudiciais, não só por provocarem a quebra de ramos, mas
também por causarem danos físicos nos cachos, tornando-os impróprios para a
comercialização, por se apresentarem excessivamente manchados.
6.2. Quebra-Ventos
Na implantação de um vinhedo deve-se dispor de área livre
para instalação de quebra-ventos formados por espécies vegetais, tais como
eucalipto, leucena, bananeira e capim Cameron. Pode-se também, utilizar como
quebra-vento telas de nylon, com 70% de densidade, colocadas alto, na vertical,
do lado em que penetra o vento, em toda a extensão do vinhedo. Desse modo,
consegue-se evitar que os bagos sofram danos mecânicos causados pelo vento, sob
a forma de escoriações superficiais que desqualificam a uva no processo de
comercialização.
6.3. Preparo do solo
Limpeza da área
Deve-se eliminar do terreno toda a vegetação existente. de
forma a permitir o total aproveitamento do solo. Essa limpeza, que consiste nas
operações de desmatamento, roçagem e destocamento da área, deverá ser
realizada quatro meses antes da data prevista para o plantio, o que resultará
em tempo para a execução dos trabalhos subseqüentes de sistematização da área,
análise do solo, correção, instalação do sistema de irrigação, confecção do
sistema de condução e outros.
Sistematização da área
Conforme o método de irrigação a ser utilizado, o
nivelamento do terreno poderá ser aconselhável. Entretanto, a remoção de solo
deve ser mínima, para que não ocorra exposição do subsolo.
Análise do solo
Logo após a limpeza do terreno, três meses antes do plantio,
coletam-se amostras de solo representativas da área onde será implantado o
vinhedo, num perfil com profundidade média de 35 cm. Tais amostras são enviadas
a laboratório especializado em análise de solo para averiguação das
necessidades de calagem e fertilização do terreno.
Calagem
Na hipótese do laudo da análise de solo assinalar a
necessidade de cal agem, esta deverá ser feita de 30 à 60 dias antes do
plantio, procurando-se sempre colocar calcário suficiente para que o solo
atinja um pH em tomo de 6,0 - 6,5.
Gradagem e aração
Após a distribuição do calcário é aconselhável a operação de
gradagem, a fim de incorporar o corretivo ao solo, seguida de uma aração
profunda, revolvendo-se uma camada de 20 a 40 cm. No caso de solo com camada
compacta e desunifom1e, pode-se utilizar com vantagens o subsolador, uma vez
concluída a aração.4
Sulcagem para adubação básica
Por causa do pequeno espaçamento entre plantas nas linhas
dos vinhedos, recomenda-se a abertura de sulcos para adubação. Pode-se também
realizar a adubação por processo convencional de abertura de covas (40 x 40 x
40 cm). Os sulcos são abertos com uma profundidade mínima de 40 cm, e no
sentido das linhas de plantio.
Implantação do sistema de irrigação
O sistema de irrigação a ser utilizado, seja qual for,
deverá ser implantado antes de realizar a adubação básica. O trabalho de
instalação do sistema de irrigação é, em geral, realizado pela empresa que
fornece o equipamento.
6.4. Adubação básica
A adubação básica deverá ser realizada de 15 a 30 dias antes
do plantio, de forma contínua, nos sulcos abertos para este fim. Aconselha-se,
inicialmente, o uso de esterco de caprino ou de bovino na base de 20 litros
por planta, para dar melhores condições físicas, químicas e microbiológicas ao
solo, o que irá favorecer a absorção dos nutrientes minerais pelas plantas: Os
nutrientes minerais fósforo e potássio serão utilizados segundo as quantidades
recomendadas no Quadro 1, de acordo com o resultado da análise.
Nutriente
Fósforo (P-mg.dm-3)
Potássio (cmolc.dm-3)
Quantidade no solo
0-10
11-20
21-40
0-0,10
0,11-0,20
0,21-0,40
Quantidade a aplicar
(g/planta)
150
100
70
80
50
30
Após a adubação, fecham-se os sulcos, de maneira que haja a
incorporação dos adubos.
6.5. Construção da latada
Na região do Submédio São Francisco, o sistema de condução
tradicionalmente adotado para a videira é a latada.
Área
É aconselhável a construção de latadas com fileiras medindo
até 200 m, e tendo o mesmo comprimento dos lados, cobrindo uma área de quatro
hectares. Desse modo, facilitam-se as práticas de cultivo e reduzem-se os
custos de construção. Entre as latadas são abertas ruas suficientemente largas
para permitir a manobra de máquinas.
Espaçamento
Deve ser definido antes de se traçar e construir a latada.
Para cultivares enxertadas sobre portaenxertos vigorosos, o espaçamento pode
ser de 3 x 3 m ou 4 x 2 m: para cultivares enxertadas em portaenxertos menos
vigorosos, pode ser de 3 x 2,5 m ou 3 x 2 m. As distâncias entre fileiras
inferiores a 3 metros não são aconselháveis, uma vez que dificultam os
trabalhos mecanizados.
Traçado
Definida a distância de plantio e preparado o terreno, esse
pode ser demarcado da seguinte forma:
i. Traçado das linhas principais: crava-se
uma estaca num dos cantos em que ficará a latada, a partir daí traça-se um
ângulo reto para que a latada fique devidamente retangular ou quadrada. Para
formar o ângulo reto utiliza-se uma corda marcada com as distâncias entre as
fileiras; a 4ª marca coincidirá com a estaca fixada no ponto A, conforme se vê
na; a 8ª marca deverá corresponder à estaca no ponto B, enquanto a 13ª se
ajustará com a primeira em C. Prolongando-se os lados AC e AB formam-se as
linhas principais da latada.
ii. Traçado das linhas de plantio: na linha
lateral em que estão demarcadas as distâncias entre as linhas, faz-se um outro
ângulo reto, demarcando-se uma nova linha de plantio (BD) paralela a primeira
(AC).
iii.
Demarcação da área: com base nos dois ângulos retos que foram traçados
na área, demarca-se a linha A'B', cuja distância deve ser igual à da linha
A'B', comprovando que os ângulos foram bem traçados. Sobre a linha A'B'
marca-se, com piquetes, a distância entre as linhas de plantio, e a partir daí
marcam-se todas a linhas de plantio da área.
Armação da estrutura da latada
Completada a demarcação, faz-se a distribuição dos moirões e
das estacas na área, de modo a colocar um moirão em cada canto da latada e
estacas mais grossas em cada extremidade das linhas de plantio, enterradas num
ângulo de 60° com o solo. A cada poste corresponderá um esticador, destinado a
sustentar o peso da linha de plantas.
Distribuição dos arames
Uma vez assentados os postes, procede-se ao esticamento dos
arames. Começa-se pelos fios de nº 10 nas linhas de plantio, seguindo-se os
fios de nº 12, distribuídos perpendicularmente às linhas de plantio a cada 6 m,
os quais sustentarão os fios de nº 14, que serão colocados a cada 0,50 m nas
entrelinhas. Ver o esquema apresentado na.
A latada deverá ficar bem esticada, a 2m de altura, pois com
o peso das frutas há sempre o risco de que fique muito baixa, tornando-se
inadequada à realização dos trabalhos mecanizados.
Fig. 11. Sistema de condução de latada
6.6. Plantio
As mudas do porta-enxerto ou da produtora de pé-franco ou
enxertada poderão ser levadas para o campo com dois a três meses de idade,
desde que tenham sido bem protegidas do ataque de pragas e doenças.
Época
Havendo disponibilidade de mudas, o plantio pode ser
efetuado em qualquer época do ano. No entanto, para minimizar os custos com
irrigação, aconselha-se o plantio no início da estação chuvosa (dezembro).
Covas
Devem ser de tamanho suficiente para acomodar o sistema
radicular da muda. São abertas no camalhão que se formou sobre a linha de adubo
depositado no fundo do sulco de adubação.
Tutoramento
Antes de plantar a muda ou imediatamente após, enterrar um
tutor que conduzirá a brotação verticalmente até o arame do sistema de
condução.
Irrigação
Imediatamente após o plantio, deve-se irrigar abundantemente
a área, de modo que o nível de umidade no solo chegue a capacidade de campo
(Cc). Essa primeira rega favorece o pegamento das mudas, pelo fato de colocar
suas raízes em contato com os nutrientes previamente incorporados nos sulcos de
adubação.
6.7. Práticas Culturais
Durante a fase inicial de crescimento, que se completa na
primeira poda de frutificação, deve-se ter cuidados especiais com as pequenas
videiras, executando todas as práticas culturais necessárias ao bom
desenvolvimento da cultura. As práticas de poda de condução, amarração, limpeza
da área, combate à formiga, tratamentos fitossanitários e irrigação devem ser
realizadas dentro de um cronograma de trabalho para que as plantas
desenvolvam-se rapidamente, entrando em produção precocemente.
Poda de condução e amarração
Após o plantio, conserva-se um Único ramo, que é conduzido
até a latada, amarrado convenientemente ao tutor, a fim de obter uma planta de
tronco bem ereto e evitar que se quebre pela ação do vento. Os ramos ladrões
que saem do portaenxerto e as brotações laterais são eliminadas ainda novas,
evitando-se desse modo a com petição com o ramo que está sendo conduzido.
Quando o ramo ultrapassar a latada de uns 30 cm, procede-se à sua poda,
deixando-se a gema imediatamente abaixo do sistema de condução. Quando as
gemas apicais do ramo podado brotarem, deixam-se apenas as duas Últimas
brotações, que darão origem aos braços primários.
Limpeza
A partir do plantio é indispensável conservar as fileiras de
plantas sempre limpas, para evitar que as mudas novas sejam abafadas pelas
ervas daninhas. Nas entre linhas utiliza-se a roçadeira ou enxada rotativa para
manter a vegetação rasteira ao solo.
Combate às formigas
Na fase inicial de desenvolvimento das videiras é muito
importante que se dê combate eficiente às formigas, pois se estas atacarem na
época de aparecimento das primeiras folhas, é praticamente inevitável a perda
das mudas. A melhor hora para localizar os caseiros e realizar seu controle com
um formicida adequado é a partir das 17 horas.
Tratamento fitossanitário
Na fase de crescimento das plantas é necessário proceder ao
controle preventivo das doenças passíveis de ocorrerem, sobretudo o oídio
durante o ano todo e o míldio no período chuvoso. Desse modo, as plantas podem
desenvolver-se sadias e com maior rapidez.
Irrigação
As regas deverão ser realizadas de acordo com o tipo de solo
e com o sistema de irrigação adotado. Na fase de desenvolvimento inicial da
cultura é muito importante que não haja limitação hídrica, o que acarretaria sérios
prejuízos ao crescimento e engrossamento da cepa, em conseqüência dos entrenós
muito curtos.
7. Nutrição e adubação
A produção de uvas de qualidade decorre, em grande parte, da
nutrição equilibrada das videiras. O equilíbrio é alcançado quando as plantas
recebem quantidades de nutrientes que atendem suficientemente às necessidades
nutricionais da cultura para vegetar e produzir de maneira satisfatória.
A nutrição da videira compreende uma série de processos
físicos, químicos, fisiológicos e biológicos, resultantes das interações entre
as plantas e o meio no qual estão estabelecidas.
Nas áreas de clima tropical, por exemplo, a videira dá
mostras de estar convenientemente nutrida quando após a colheita e durante o
período de maturação dos ramos sua folhagem e seus brotos terminais não
apresentam sintomas visuais de deficiência ou excesso de nutrientes.
7.1. Sintomas de deficiência e de excesso nutricional
Na videira, quando os elementos nutritivos nas folhas e nos
frutos estão presentes em quantidades abaixo ou muito acima do nível normal,
costumam manifestar-se anormalidades mais ou menos típicas que servem para identificar
a deficiência do nutriente que as origina.
Tratando-se, porém, dos nutrientes que são consumidos em
grande quantidade, como nitrogênio, fósforo e potássio, por exemplo, não é
recomendável esperar que apareçam os sintomas de deficiências para proceder à
fertilização, pois quando estes se manifestam, a produção das plantas e a
qualidade dos frutos já terão sido reduzidas substancialmente.
No caso dos micronutrientes, quando do aparecimento dos
primeiros sintomas, é possível ainda fazer-se as devidas correções na
fertilização das plantas, sem que haja um decréscimo significativo na qualidade
e na quantidade dos frutos. Entretanto, o mais aconselhável é monitorar-se o
vinhedo através de análises foliares, realizando as fertilizações com os
nutrientes necessários e em quantidades adequadas, evitando-se, desse modo, o
aparecimento de sintomas de deficiência ou excesso nutricional.
7.1.1. Macronutrientes
Nitrogênio
A falta desse elemento se manifesta inicialmente nas folhas
mais velhas, que se tornam amareladas. Com a evolução da deficiência, as
plantas apresentam um débil desenvolvimento, com o encurtamento dos entrenós,
brotações contorcidas e avermelhadas, baixo percentual de pegamento dos frutos,
resultando numa baixa produção, com cachos pequenos e desuniformes.
O excesso de adubação nitrogenada desequilibra a relação
carbono/nitrogênio, que regula todo o mecanismo da diferenciação e indução das
gemas florais, cuja conseqüência é a diminuição da fertilidade das gemas.
Fósforo
A deficiência desse elemento está ligada a redução do
sistema radicular, ao retardamento no crescimento e à escassa lignificação dos
tecidos. Os sintomas aparecem primeiro nas folhas mais velhas, que ficam
opacas e de coloração verdeazulada, entretanto eles só se manifestam quando
realmente a deficiência é muito acentuada, o que geralmente não acontece no
campo.
Potássio
A carência desse elemento interfere na síntese protéica,
causando a elevação na quantidade de aminoácidos livres; retarda a maturação, e
as plantas produzem cachos pequenos, duros, verdes e ácidos.
Os sintomas de deficiência de potássio manifestam-se
primeiramente nas folhas mais velhas, sob a forma de um amarelecimento
internerval em cultivares de uvas brancas, seguido de necrose da zona
periférica do limbo que vai progredindo para o interior no tecido internerval.
Em cultivares tintas, as folhas começam por apresentar uma coloração avinhada
entre as nervuras, seguindo-se pela necrose progressiva dos tecidos do limbo.
As causas de deficiência de potássio nas plantas estariam
associadas à adubação potássica deficiente, ao antagonismo N/K resultante de um
excesso de nitrogênio, à ocorrência de falhas no manejo da irrigação e de danos
no sistema radicular, assim como à menor capacidade de absorção do potássio
pelas diferentes cultivares.
Cálcio
A falta desse elemento afeta particularmente os pontos de
crescimento da raiz; nas folhas jovens a sua deficiência se manifesta por uma
clorose internerval e marginal, seguida da necrose das margens, mas também pode
provocar a morte dos ápices vegetativos.
Magnésio
As folhas velhas apresentam clorose internerval, enquanto as
nervuras permanecem totalmente verdes. Em cultivares de uvas brancas as
manchas cloróticas evoluem até a necrose dos tecidos do limbo; em cultivares
de uvas tintas as manchas adquirem coloração avinhada e também evoluem até a
necrose do tecido.
Quando a carência de magnésio é muito acentuada, sobrevém o
esgotamento geral das plantas. Nos cultivos irrigados, ela é bastante
freqüente, sendo, pois, necessário redobrar a atenção para os sintomas desse
problema.
Enxofre
A carência desse nutriente dificilmente é encontrada na
videira, em virtude dos tratamentos fitossanitários contra o oídio, nos quais
o enxofre é utilizado como fungicida de contato, sendo então absorvido pelas
folhas na forma de S02.
7.1.2. Micronutrientes
Ferro
Os sintomas de carência de ferro na videira manifestam-se
inicialmente nas folhas novas, como uma clorose internerval do limbo,
permanecendo um reticulado verde fino nas nervuras. Os sintomas evoluem para a
necrose da margem das folhas e queda prematura das mesmas. Excesso de cálcio
ativo no solo induz ao aparecimento do sintoma de deficiência de ferro, que
nesse caso é denominado de clorose férrica.
Em solos maldrenados, com problemas de encharcamento, a
redução do ferro para formas insolúveis é favorecida, tornando-o indisponível
para as plantas.
Boro
A carência desse elemento manifesta-se com a morte dos
ápices vegetativos, a diminuição dos entrenós, a emissão de feminelas e o
envassouramento. Nos cachos florais, ocorre excessivo abortamento das flores,
cuja conseqüência são os cachos muito raleados; a caliptra não se solta com
facilidade por ocasião da florada, permanecendo sobre o bago em
desenvolvimento. Pode sobrevir a necrose nos bagos, interna e externamente,
além do dessecamento parcial ou total dos cachos. O boro entra na formação da
parede celular, de modo a evitar o excessivo endurecimento da mesma. Em plantas
deficientes, há o rápido endurecimento da parede, o que não permite o aumento
normal no volume da célula.
Manganês
Sob condições de pH elevado, excesso de matéria orgânica,
altos teores de P, Cu e Zn e períodos de seca, aparecem sintomas de deficiência
de manganês. Todavia, muito mais freqüente e mais severa que a deficiência é a
toxidez desse elemento em condições de solos ácidos das regiões tropicais e
subtropicais. Em solos maldrenados, com problemas de encharcamento, acontece
uma redução do manganês, que é liberado para a solução do solo em teores
considerados tóxicos para as videiras. Os sintomas de carência consistem em uma
clorose marginal e internerval não bem definida. A toxidez se manifesta com
necrose internerval, evoluindo para um dessecamento total e queda das folhas.
Zinco
A carência desse elemento é detectada pelos seguintes
sintomas: folhas muito pequenas, manchas amarelas como mosaico, assimetria das
folhas, dentes muito agudos, alargamento ou fechamento do seio peciolar,
folhas muito lobadas, cachos pouco compactos, desenvolvimento de muitas
feminelas e entrenós curtos.
A deficiência do zinco está relacionada com pH elevado,
altos níveis de adubação fosfatada, solos encharcados e sem aeração.
Cobre
Na videira não se verifica a carência de cobre. Ao
contrário, em algumas situações podem-se observar os danos causados pela
presença excessiva desse elemento, sob a forma de clorose das folhas e dos
ramos novos (pelo bloqueio do ferro), redução do desenvolvimento do sistema
aéreo e radicular, escassa germinação do pólen, resultando em baixa
fertilização das flores e uma queda muito grande de bagos. A toxidez provocada
pelo cobre decorre do acúmulo, no solo, de produtos contendo esse elemento, os
quais são utilizados no controle do míldio na videira.
Os demais micronutrientes, como molibdênio, cobalto e cloro
são úteis à videira em pequeníssimas quantidades. Não sendo observadas
carências, pois as necessidades das plantas em relação a esses elementos são
atendidas pelos teores existentes no solo.
7.2. Recomendação de adubação
A adubação de um vinhedo guarda estreita relação com o tipo
de solo no qual foi estabelecido. Em solos de baixa fertilidade, há a
necessidade de um maior aporte de nutrientes para suprir adequadamente as
plantas. Em solos mais férteis a quantidade de adubos utilizados pode ser
menor.
A adubação da videira deve ser levada a efeito, de modo que
não provoque um desequilíbrio nutricional nas plantas, principalmente no que
diz respeito aos macronutrientes. Como comentado anteriormente, o excesso de
nutrientes causa igualou maior dano às plantas que a sua carência.
7.2.1. Análise foliar
Segundo Christensen e outros, citados por ALBUQUERQUE
(1996), o diagnóstico das necessidade nutricionais da videira realizado através
da análise de tecidos não só é muito eficaz como permite monitorar, quase que
precisamente, o aporte de adubos e o uso dos nutrientes pelo vinhedo.
Os tecidos utilizados para avaliação do estado nutricional
de um vinhedo são o limbo e/ou o pecíolo. Na Europa (França e Itália) as
análises são realizadas em duas épocas, na floração e no início do
amadurecimento dos bagos, utilizando para a análise os limbos e os pecíolos
juntos. Christensen e outros recomendam, nos Estados Unidos, a avaliação
unicamente dos pecíolos, os quais são coletados quando as plantas se encontram
em plena floração.
A amostragem de um vinhedo deve obedecer aos seguintes
critérios:
a) A área a ser
amostrada deve estar localizada em solo, o mais homogêneo possível;
b) As plantas que
compõem a amostra devem apresentar o mesmo nível de vigor e de produção;
c) As plantas
com sinais visíveis de doenças deverão ser descartadas para a composição da
amostra.
Os pecíolos são coletados de plantas uniformemente
distribuídas no vinhedo a ser avaliado, sendo a amostra constituída por 80 a
100 pecíolos coletados, um por planta, da folha oposta ao cacho.
Os limbos devem ser descartados, preservando-se somente os
pecíolos. Caso a amostra não seja imediatamente entregue ao laboratório, os
pecíolos serão guardados em sacos de papel aberto, em local seco e ventilado,
para facilitar a secagem da amostra, e evitar o problema de fungos.
Aanálise foliar também pode servir para identificar a
deficiência ou o excesso de nutrientes numa área problema. Nesse caso,
coletam-se os pecíolos das plantas portadoras de sintomas e os resultados serão
comparados com os de plantas do mesmo vinhedo que não apresentem sinal algum de
problemas nutricionais.
7.2.2. Adubações de cobertura na fase de crescimento
Com o objetivo de realizar-se uma adubação equilibrada.
sugere-se que, na fase de crescimento das plantas as adubações nitrogenadas
sejam parceladas em quatro aplicações de 25 g por planta, a cada 45 dias nos
solos arenosos, e duas de 50 g por planta, a cada 90 dias nos solos argilosos,
iniciando a primeira aplicação 30 dias após o plantio e terminando na primeira
poda de frutificação. O potássio e o fósforo devem ser aplicados de uma só vez,
na fase de crescimento, seis meses depois do plantio. As doses são as
recomendadas na Quadro 2.
6.2.3. Adubações de fundação na fase
produtiva
Após a primeira poda de frutificação, deve-se adubar o
vinhedo a cada ciclo vegetativo, utilizandose esterco, fósforo, potássio e
nitrogênio, de forma equilibrada, considerando sempre as necessidades da
cultura. O esterco e o fósforo são aplicados 20-25 dias antes de cada poda de
frutificação, em sulcos abertos alternadamente em cada lado da linha das
plantas.
Nos ciclos do primeiro ano de produção, os sulcos devem
ficar localizados a 50 cm de distância das plantas; no segundo ano, a 80 cm, e
do terceiro ano em diante, a 100 cm. Essas distâncias relacionam-se com o
crescimento do sistema radicular, que deve ser constante desde o momento em que
a muda começa a expandir as raízes até o total estabelecimento da planta,
quando as raízes deverão ocupar o máximo da área do solo que lhes é destinada.
7.2.4. Adubações de cobertura na fase produtiva
As adubações com nitrogênio e potássio são aplicadas em
cobertura no local onde existir maior umidade e o mais próximo do sistema
radicular, fazendo-se a seguir uma ligeira incorporação dos adubos.
As adubações nitrogenadas são parceladas em três etapas:
aplica-se 30% da dose total quando as brotações atingirem 15 cm de comprimento,
30% na fase de chumbinho, e 40% logo após a colheita.
As adubações com potássio são parceladas em duas etapas: 30%
da dose total é aplicada na fase de chumbinho e 70% na fase de amolecimento dos
bagos.
As quantidades de nutrientes recomendadas acham-se descritas
na Quadro 2.
As quantidades de nutrientes poderão ser alteradas de acordo
com o monitoramento da cultura através de análises foliares.
As recomendações acima descritas são para adubação no solo;
no caso de utilizar-se fertilização através da água de irrigação, haverá
mudanças nas épocas e quantidades de nutrientes recomendados.
Por ser o sistema de fertirrigação altamente eficiente na
administração de nutrientes às plantas, normalmente a quantidade de produto
utilizado é bem menor.
7.2.5. Adubações foliares
É possível, com essas adubações, suprir parcialmente as
plantas não só de nitrogênio, magnésio e enxofre, mas principalmente dos
micronutrientes boro e zinco.
Na fase de crescimento, as adubações foliares são efetuadas
a cada 20 dias, com formulações comerciais, iniciando-se 10 dias após a
primeira adubação de cobertura, prosseguindo-se até a primeira poda de
frutificação.
Na fase produtiva, procede-se às adubações foliares de
acordo com as necessidades da cultura, normalmente determinadas por meio da
análise foliar. Com o uso de uma formulação comercial adequada à cultura da
videira, nas doses e épocas recomendadas pelo fabricante, raramente ocorrerão
problemas de deficiências nutricionais de micronutrientes.
Quadro 2. Adubação da videira (ALBUQUERQUE, 1996, adaptado).
Nutrientes no solo
Fase de Desenvolvimento
Crescimento
Produção (ciclo)
1º
2º
3º
4º
5º
Nitrogênio
(não analisado)
g de N / planta
80
100
120
150
180
200
Fósforo
(Mehlich - ppm P)
g de P2O5 / planta
0 – 10
100
70
70
70
100
120
11 – 20
80
50
50
50
100
90
21 – 30
40
30
30
30
60
70
Potássio
(Mehlich-meq.K/100ml)
g de K2O / planta
0- 0,10
80
80
100
120
150
200
0,11 - 0,20
60
60
80
100
120
160
0,21 - 0,40
40
40
60
80
90
120
8.Manejo do Vinhedo
As condições climáticas de temperatura e luminosidade
prevalecentes no trópico sem i-árido favorecem uma intensa atividade
fisiológica nas videiras, o que induz a uma precocidade de produção da cultura.
A primeira colheita é obtida a partir de 12 meses do plantio; e a partir da
terceira colheita a produção já atinge patamares comerciais.
Essa precocidade de produção, aliada à falta de um longo
período de repouso, torna indispensável a adoção de um manejo adequado da
cultura que preserve ao máximo a produtividade e a vida Útil das plantas. Para
o melhor aproveitamento do vinhedo é necessário dar adequada formação às
plantas jovens, realizar uma poda balanceada das plantas adultas e manter ainda
um controle equilibrado entre a vegetação e a produção, através de podas
verdes, desbaste de cachos e raleio de bagos.
8.1. Poda de formação
A poda de formação é a que induz o adequado desenvolvimento
do tronco e dos braços primários e secundários nas plantas ainda jovens.
Após o plantio das mudas na área do vinhedo, conduz-se um
ramo principal por planta, guiado por um tutor para que suba bem ereto até a
latada. Os ramos ladrões que saem do porta-enxerto e as brotações laterais são
eliminados quando ainda novos, evitando-se que venham a competir com o ramo
que está sendo conduzido.
Quando o ramo principal ultrapassar a latada em cerca de 30
cm, efetua-se a sua poda. preservando-se a gema situada imediatamente abaixo do
corte. O desabrochamento das duas gemas terminais. que em geral não é difícil,
dá origem a dois ramos que serão conduzidos no sentido da linha das plantas e
formarão seus braços primários (Fig. 14 B), os quais se estenderão por todo o
espaço que lhes é destinado. Sobre esses braços, a intervalos de 35 - 40 cm,
formam-se os braços secundários na medida em que o espaçamento definido
permitir.
Um outro método de condução é aquele em que se utiliza um
único braço primário, direcionado a favor dos ventos dominantes.
Sobre os braços secundários, através de podas sucessivas,
formam-se as unidades de produção em torno de 2 a 3 por braço secundário,
separadas de 1520 cm uma da outra.
8.2. Período de repouso
N o trópico, as plantas de videira caracterizam-se por um
contínuo crescimento, que as capacita a produzir duas a três safras por ano. As
cultivares de ciclos feno lógicos medianos produzem duas safras e meia por ano,
em decorrência desse hábito de crescimento.
É importante ter-se, entretanto, entre uma safra e outra, um
período de repouso de 20 a 30 dias, quando acontece a maturação dos ramos, com
a fase final da diferenciação das gemas (crescimento do cacho a nível microscópio)
e o acúmulo de hidratos de carbono. Para que tais atividades fisiológicas se
processem, é necessário que as videiras tenham uma folhagem sadia, sem sintomas
de deficiências nutricionais e ou doenças, o que permite que as plantas
continuem fotossintetizando ativamente, resultando num acúmulo maior de
substâncias de RESERVA.
É ainda nesse período que as plantas demonstram estar
equilibradas nutricionalmente, pois é quando aparecem nitidamente os sintomas
de carência ou excesso de nutrientes na folhagem.
Durante o período de repouso, é importante manter um certo
nível de umidade no solo, para evitar que as plantas sofram estresse hídrico.
Segundo Pereira & Paez, citados por ALBUQUERQUE (1996), a ocorrência de
déficit hídrico no período de repouso compromete a brotação e a produção das
videiras no ciclo seguinte. Como essa fase do ciclo fenológico da videira em
clima tropical tem sido muito pouco estudada, há aspectos associados aos
processos hormonais e metabólicos nela desenvolvidos que são praticamente desconhecidos.
8.3. Poda de frutificação
A poda de frutificação levada a efeito imediatamente após o
repouso permite que se regule a estrutura produtiva das plantas, facilitando a
obtenção de,colheitas satisfatórias e de excelente qualidade.
Através da poda de frutificação deixa-se em cada unidade de
produção, um esporão de duas gemas e uma vara com quatro ou mais gemas. A
finalidade do esporão é dar origem à vara e ao esporão da poda do ciclo
subseqüente; enquanto que a da vara é a produção de cachos.
O número de gemas por vara é determinado pelo vigor das
plantas e pela localização das gemas férteis; já a fertilidade das gemas, isto
é, a sua capacidade de emitir brotações com cachos está determinada
geneticamente em cada cultivar, sofrendo também influência externa das
condições climáticas no momento da diferenciação floral, bem como do estado
nutricional das plantas.
De modo geral, é recomendável deixar-se o menor número de
gemas possível por vara e que seja compatível com a cultivar trabalhada. Pretende-se
com essa recomendação minimizar os efeitos negativos da má brotação das gemas
que ocorre nas áreas de clima tropical.
No caso da cultivar Itália, deixa-se em torno de quatro a
oito gemas por vara, sendo que as gemas mais férteis estão localizadas da sexta
até a oitava. Na “Piratininga”, as gemas férteis localizam-se da quarta à
sexta, podendo-se realizar uma poda média com varas de quatro a seis gemas.
8.4. Aplicação de reguladores de crescimento
As videiras desenvolvidas em regiões tropicais
caracterizam-se por apresentar um crescimento contínuo, no qual não ocorre
senescência e abscisão natural das folhas, ou seja, elas não mudam de
coloração e tampouco caem. Há, além disso, uma marcante dominância apical nas
varas deixadas pela poda, assim como uma tendência à produção de cachos muito
compactos, em conseqüência das temperaturas elevadas e da baixa umidade
relativa do ar, que favorecem a fecundação das flores.
Essas características naturais do desenvolvimento das
plantas podem ser modificadas pelo uso de reguladores de crescimento.
8.4.1. Brotação das gemas
As gemas da videira, sob condições de clima tropical,
apresentam uma forte dominância apical, que é caracterizada pelo
desabrochamento mais vigoroso das gemas terminais das varas, resultando numa
brotação desuniforme e irregular da planta como um todo. Essa dominância está
supostamente relacionada com a produção e translocação de reguladores de
crescimento, tais como as auxinas.
As auxinas promoveriam o transporte de assimilados
diretamente para a região meristemática da gema apical, bloqueando a disponibilidade
dos nutrientes para as gemas laterais, e também agiriam inibindo o
desenvolvimento das conexões vasculares entre as gemas laterais e o tecido
vascular principal.
Para diminuir os efeitos da forte dominância apical nas
videiras, é conveniente utilizar alguns produtos químicos que forçam a brotação
rápida e uniforme das gemas.
Conforme pesquisas desenvolvidas na região do Submédio São
Francisco (Albuquerque e Albuquerque, citados por ALBUQUERQUE, 1996), os
produtos mais eficientes para equilibrar a brotação são: a cianamida
hidrogenada (H2CN2), o ethephon (ác. 2-cloroetilfosfônico) e a calciocianamida
(Ca CN2).
8.4.2.Elongação da
ráquis e dos pedicelos
As condições semi-áridas tropicais, com baixa um idade
relativa do ar e temperaturas elevadas, favorecem a polinização e o pegamento
dos frutos. Além disso, parece diminuir o comprimento dos pedicelos, resultando
em cachos muito compactos, com bagos desuniformes e deformados, por estarem
comprimidos uns contra os outros.
Para aumentar os pedicelos, facilitando a operação do
raleio, pode-se aplicar 2 ppm de ácido giberélico em aspersão dirigida
exclusivamente para os cachos florais, quando estes medirem 6 cm ou menos de
comprimento. Esse tratamento deve ser realizado, de preferência, nas primeiras
horas da manhã, para evitar problemas de fitotoxidade nos cachos florais.
Em cultivares de uvas com semente, como a “Itália” e a
“Piratininga”, não se deve utilizar o ácido giberélico para aumentar o tamanho
dos bagos, por causa do efeito nocivo que o mesmo tem sobre a fertilidade das
gemas, diminuindo a produtividade do vinhedo.
8.4.3. Coloração dos bagos
A cultivar Piratininga e outras cultivares de bagos rosados
ou tintos apresentam, principalmente no período de clima quente, bagos de
coloração desuniforme, em virtude da formação deficiente de pigmentos
antociânicos que respondem pela coloração da película que envolve as uvas, É
possível corrigir esse problema pulverizando-se as plantas com uma solução de
ethephon a 200 ppm no início de maturação dos cachos.
8.5. Condução da parte aérea
Acondução da parte aérea das plantas em produção consta de
um conjunto de práticas realizadas para melhorar o aspecto e a qual idade dos
cachos, bem como promover o equilíbrio entre a vegetação e a frutificação. A
condução da parte aérea é mais utilizada nas cultivares para consumo “in
natura”.
Amarração
Logo após a poda, efetua-se a amarração das varas, não
apertando muito junto aos fios de arame, a fim de não prejudicar o seu
crescimento transversal. Quando as novas brotações atingirem 40 cm, em média,
devem ser amarradas, para que não se quebrem pela ação dos ventos, como também,
para que as folhas não fiquem sobrepostas, o que iria diminuir a taxa
fotossintética em relação a área foliar total das plantas. A amarração deve ser
repetida à medida que os ramos forem crescendo, mantendo-se sempre a planta bem
conduzida, o que evitará ramos caídos e emaranhados.
Esladroamento
É a remoção dos ramos estéreis, quando atingirem a faixa de
10 a 30 cm de comprimento, para não causar ferimentos e nem desequilíbrio
fisiológico nas plantas, proporcionando aos ramos remanescentes maior
crescimento. Devem-se eliminar os ramos que nascem do tronco, os que estão em
excesso e as brotações duplas ou triplas originadas de uma única gema. O
aparecimento de muitos ramos ladrões significa que o método de poda adotado é
incorreto e há necessidade de uma poda menos severa. São deixadas, de modo
geral, três brotações em cada vara.
Eliminação das gavinhas e despontamento dos ramos
As gavinhas devem ser eliminadas antes ou até a florada. Os
ramos devem ser despontados quando apresentarem de quinze a vinte folhas e já
tiverem ocupado o espaço a eles destinado. O objetivo dessas duas práticas é
acelerar a maturação das gemas basais, evitar a filagem ou o desavinho,
melhorar a fecundação das flores, induzir a melhor formação dos frutos e
equilibrar a vegetação.
Desnetamento
Consiste no despontamento das feminelas ou ramos terciários,
deixando-se apenas uma ou duas folhinhas que auxiliam na assimilação de
nutrientes, tendo em vista a melhor formação dos frutos e das gemas frutíferas
do ciclo subsequente. O desnetamento deve ser feito até o início da floração.
Desfolhamento
Deve ser feito no período de crescimento do ramo, com o
propósito tanto de melhorar a ventilação e a insolação das videiras, como de
facilitar o controle das doenças que atacam os cachos. Não se deve tirar mais
de cinco folhas por ramo e. naquele que estiver com cacho, devem ser deixadas
acima deste, dez a dezoito tolhas. Essa prática, entretanto, pode ser
totalmente eliminada quando se faz o perfeito direcionamento e amarração dos
ramos.
Desbaste de cachos
Consiste na remoção de cachos florais, antes da floração, e
de cachos novos ou de parte deles, depois de os frutos se formarem. Eliminam-se
os cachos dos ramos mais débeis, com poucas folhas, doentes ou abafados por
excesso de ramos e folhas. O objetivo dessa operação é deixar a frutificação
bem distribuída, evitando-se o amontoamento de cachos em alguns ramos e espaços
vazios em outros.
Aumentando-se a relação entre as folhas e o número de
cachos, proporciona-se melhor nutrição aos cachos remanescentes.
Uma poda mais longa, na qual se deixa maior número de varas
com seis a oito gemas, e a aplicação de reguladores de crescimento destinados a
melhorar a brotação das varas podem aumentar efetivamente a capacidade de
produção da videira. Ademais, com o desbaste dos cachos, é possível obter uma
safra de qualidade, sem que as plantas sofram danos posteriores.
Os cachos provenientes dos netos devem ser eliminados, tanto
pelo fato de seu desenvolvimento estar atrasado como pela concorrência que eles
fazem aos cachos já formados. Resumindo, pode-se dizer que o tamanho dos cachos
está em função da superfície foliar das plantas e a relação mais equilibrada é
de um cacho para dois ramos.
8.6.Descompactação dos cachos
A descompactação ou raleio dos bagos tem por objetivo dar o
melhor aspecto possível aos cachos, através da eliminação de um certo número de
botões florais ou, mais tarde, de bagos já formados em cada cacho, o que
permite o desenvolvimento adequado dos bagos remanescentes.
Winkler e outros, citados por ALBUQUERQUE (1996) comentam
que o raleio realizado na abertura das flores aumenta o volume dos bagos
remanescentes em 32%, e quando realizado 10 dias após, o aumento chega somente
a 18%. Evidenciando a importância da realização do raleio bem cedo. se
possível, antes da florada, ou no máximo, até o estádio de chumbinho (bagos
com três a quatro milímetros).
Sempre que o raleio é feito precocemente, é necessário que
se realize uma toalete nos cachos, quando os bagos se encontrarem no estádio de
azeitona. É importante salientar que o tempo dispendido com o raleio precoce e
a posterior toalete dos cachos é menor do que aquele dispendido com o raleio
realizado unicamente com tesoura no estádio de chumbinho.
O raleio precoce é bastante eficiente quando executado por
mão-de-obra competente e responsável. Esta deve ser selecionada e treinada
dentro da fazenda para que se conheça, previamente, a qualidade do trabalho que
será feito. Do contrário, podem sobrevir resultados totalmente desastrosos para
a empresa: cachos deformados e excessivamente raleados (banguelos).
A descompactação dos cachos na prefloração deve ser evitada
nos períodos chuvosos, em virtude do problema de abortamento de flores e até
mesmo de cachos, o que estaria possivelmente relacionado com a penetração dos
fungos: Botrytis eAlternaria. Recomenda-se, então, para esse período, o raleio
com tesoura na fase de ervilha (cinco a seis milímetros), quando o cacho se
torna mais resistente.
Raleio manual na prefloração
Os cachos são descompactados com a mão, dez dias antes da
data prevista para floração.
Raleio com escova de plástico na prefloração
Os cachos são descompactados com uma escova de plástico
apropriada, dez dias antes da data provável da florada.
Pinicado
Os cachos são descompactados com a mão, logo após a formação
dos bagos, quando estes apresentam menos que três milímetros de diâmetro.
Raleio com tesoura
Os cachos são descompactados com tesoura apropriada, quando
os bagos atingirem cinco a seis milímetros de diâmetro.
9. Irrigação
Apesar de ser uma cultura que emprega diversos recursos
tecnológicos muitos produtores aplicam um insumo considerado chave para o
próximo milênio - água, sem nenhum critério, o que torna necessário a presença
da Universidade e de pesquisadores locais imprescindíveis para realização de
estudos e divulgação de resultados, atendendo a carência de conhecimento em
relação aos efeitos de diferentes sistemas de irrigação na cultura da videira. Esta, por muito tempo era realizada através
do método de sulco e hoje, na maioria das áreas estão sendo empregados os
métodos de aspersão sobre copa, no entanto, muitos já estabeleceram seus
parreirais com sistemas mais avançados como a microspersão e outros mais
tecnificados, empregam sistemas de gotejamento.A área irrigada por
microaspersão tem sido aumentada em função da restrição hídrica regional,
aliada à redução de custos operacionais. A região, durante o período de
inverno, tem sofrido com a escassez de
água causada pelo pequeno porte de seus córregos, devido em parte a ausência de
conservação do solo e de matas ciliares e isto tem gerado muita preocupação aos
agricultores quanto ao volume de água utilizado, além de inviabilizar o aumento
de área irrigada na região.
A água é essencial para o crescimento e desenvolvimento de
todas as partes da videira. No solo, afeta o crescimento do sistema radicular
no que diz respeito à direção do crescimento, ao grau de expansão lateral, às
ramificações e à profundidade de penetração das raízes, bem como à relação
entre a massa foliar e o sistema radicular. À medida que se reduz a
disponibilidade de água, diminui o crescimento do sistema radicular e da parte
aérea. Nesse caso, as raízes são, de modo geral, menos afetadas que as
brotações.
A primeira fase do ciclo vegetativo da videira
caracteriza-se pelo crescimento acelerado das brotações tenras. À medida que
escasseia a água no solo, a velocidade de crescimento decresce rapidamente, os
entrenós diminuem e a folhagem das pontas, de uma cor verde-amarelada, toma-se
verde-escura, semelhante ao das folhas maduras.
Os sintomas descritos permitem inferir sobre a
disponibilidade de água no solo, denunciando a necessidade de mais água no
vinhedo. Quando o déficit hídrico se prolonga, as folhas mais velhas adquirem
um tom amarelado e a margem do limbo desseca, tendendo a se enrolar.
Finalmente, as folhas mais próximas da base dos brotos secam e caem.
Uma redução repentina da água disponível no solo do vinhedo
produz o murchamento da folhagem e das partes tenras dos brotos, seguida do
amarelecimento e queda das folhas. Este tipo de murcha é comum quando as
temperaturas são elevadas, os ventos são fortes e a água disponível no solo
ocupado pelas raízes é escassa.
A produção vitícola é afetada pela redução da água
disponível para as plantas, porque essa restrição, além de diminuir o tamanho
potencial dos bagos e o comprimento e peso dos cachos, afeta também o conteúdo
de sólidos solúveis e de outros componentes.
A deficiência de umidade nos primeiros estádios de
desenvolvimento dos cachos reduz marcadamente o tamanho dos bagos, sem que este
possa se recuperar com irrigações posteriores. No entanto, desde que eles
tenham alcançado um tamanho satisfatório, uma redução moderada de água pode ser
favorável, ao diminuir a taxa de crescimento dos sarmentos e estimular a
acumulação de açúcares e pigmentação nos frutos.
9.1. Sistema de irrigação
A videira adapta-se igualmente bem aos métodos de irrigação
por superfície, por aspersão e localizada.
Dentre os métodos de irrigação por superfície, vale destacar
o sistema de rega por sulcos, em que se utiliza sulcos convencionais ou sulcos
curtos, fecha¬dos e nivelados. A derivação de água nesse sistema pode ser feita
por sifão ou por tubos janelados.
No caso da irrigação por aspersão, pode-se utilizar o
sistema de rega por aspersão 30bre copa de tipo móvel ou fixo.
Quanto à irrigação localizada, tanto o sistema de gotejamento
como o de microaspersão são viáveis.
A escolha entre os sistemas de irrigação citados vai
depender de uma série de fatores técnicos, econômicos e culturais associados a
condições específicas do vinhedo. Entre os fatores técnicos destacam-se os seguintes:
I Recursos hídricos (potencial hídrico, situação
topográfica, qualidade e custo da água)
II Topografia;
III Solos (características morfológicas, retenção de água,
infiltração, características químicas e variabilidade espacial);
IV Clima (precipitação, vento e evapotranspiração
potencial);
V Culturas (sistemas e densidade de plantio, profundidade
efetiva do sistema radicular, altura das plantas, exigências agronômicas e
valor econômico);
VI Aspectos econômicos (custos iniciais, operacionais e de
manutenção
VII Fator humano
(nível educacional, poder aquisitivo, tradição, etc.).
De modo geral, os sistemas de irrigação por sulcos e por
gotejamento são indicados para solos argilo-arenosos e argilosos, enquanto os
sistemas por aspersão e por microaspersão mostram-se mais adequados para solos
arenosos e areno-argilosos.
9.2. Manejo de água
O manejo de água está diretamente relaciona¬do com o sistema
de irrigação selecionado. Nos sistemas de irrigação por sulco e por aspersão,
por exemplo, o nível de água disponível no solo deve ser mantido acima de 50%.
No caso da irrigação localizada, o nível de água disponível no solo deve ser
mantido entre 80 e 100%.
Recomenda-se, na irrigação localizada, que o manejo de água
seja monitorado por meio de tensiômetros instalados em pontos correspondentes a
50% da profundidade efetiva das raízes e imediata¬mente abaixo destas. A
proporção recomendada é de três a quatro estações de tensiômetros instaladas
numa parcela de solo uniforme e de tamanho não superior a dois hectares. A
partir dessa parcela monitora-se a irrigação das demais áreas da propriedade
que apresentem o mesmo tipo de solo.
As tensões de água no solo aceitáveis para o manejo das
regas dependem dos tipos de solos cultivados. Para solos arenosos, as tensões
podem variar entre 15 e 25 centibares; para os argilosos, podem alcançar de 40
a 60 centibares. As leituras dos tensiômetros servem, em ambos os ca¬sos, para
o ajustamento da lâmina ou do volume de água aplicado. Num solo cuja tensão de
água varie entre 15 e 25 centibares, por exemplo, deve-se reduzir em 10% o
tempo de rega quando a tensão permanecer abaixo de 15 centibares durante uma
semana de irrigação. Por outro lado, quando a tensão for superior a 25
centibares, deve-se aumentar o tempo de rega em 10%.
É igualmente recomendável acompanhar a flutuação do lençol
freático ao longo do tempo, através de poços de observação. Esses poços podem
ser instalados em malhas quadradas de 250 x 250 m ou de 500 x 500 m. As
leituras do nível do lençol freático feitas quinzenal ou mensalmente têm por
finalidade identificar, em tempo hábil, os pontos críticos da área cultivada.
Sugere-se que a linha de saturação seja mantida abaixo de um metro em relação à
superfície do solo, para que em nenhum momento prejudique o aprofundamento
normal do sistema radicular das videiras.
10. Doenças e Pragas
As videiras em clima úmido e quente são mais sujeitas a
doenças causadas por fungos. Assim o cultivo da videira requer uma série de
medidas de controle, sem o quais inviabilizaria-se o cultivo de certas
variedades. Dentre as principais, destacam-se:
10.1. Oídio
Agente causal: Uncinula necator (SchW.) Burril (Oidium
tuckeri Berk.). O patógeno encontra-se disseminado por toda a zona vitícola e
se desenvolve bem em clima seco. A doença é favorecida pelo clima frio, pois o
fungo se desenvolve desde temperaturas de 7°C à sombra ou luz difusa; porém, exposta
à luz, perece. A doença se manifesta em toda a planta, sendo as partes verdes e
tenras as mais atacadas, causando prejuízos nos brotos, nas flores e nos
frutos.
Nas folhas novas, observa-se retraimento e murcha do limpo.
As flores atacadas caem e os frutos, quando em formação, paralisam o
desenvolvimento e ocorre rachadura, devido à alteração sofrida pela casca.
A principal medida de controle nos vinhedos comerciais é
feita por meio do uso de fungicidas, principalmente à base de enxofre, que é
mundialmente utilizado pelo seu baixo custo e elevada eficácia e fungicidas
sistêmicos ,tais como benomil, tiofanato metilico, fenarimol e triadimefon
(Celso Valdevino Pommer). Em regiões de clima quente, não se recomenda empregar
unicamente fungicidas sistêmicos, devido ao aparecimento de raças resistentes a
esses produtos.
10.2. Antracnose
Agente causal: Elsinoe ampelina ( de Bary) Shear
(Splhaceloma ampelinum de Bary). O fungo dessa doença acha-se presente em todas
as áreas onde, durante a vegetação e a fruticação, ocorrem chuvas freqüentes,
sendo uma doença oriunda das condições úmidas, não exigindo grande temperatura
para se desenvolver, é praticamente desconhecida na viticultura do Nordeste
semi-árido. As variedades viníferas são mais suscetíveis que as americanas.
No início da brotação da videira, a antracnose é a primeira
doença a aparecer, atacando todos os órgãos verdes da planta, preferencialmente
os tecidos tenros. O fungo se desenvolve sobre as folhas e os frutos. Nas
folhas, forma mancha parda deprimida. As manchas podem, ao se desenvolver,
causar rupturas, desintegrando as folhas. Nos frutos, surgem manchas pardas,
arredondadas, denominado olho de passarinho, e eles chegam a se fender e expor
as sementes.
O controle, durante o inverno, é feito com calda
sulfocálcica a 32° Baumé. Utiliza-se 1L de calda para 8L de água. Durante a
vegetação, recomenda-se a aplicação de calda bordalesa ou outro preparado
cúprico a cada quinze ou vinte dias, Ziram, Zineb, óxido de cobre (Salim Simão
et al. 1998).
Fig. 4. Sintoma de
antracnose no ramo "cancros". (Foto G. Nakashima).
Fig. 5. Bagas com
sintomas de antracnose. (Foto: G. Nakashima).
10.3. Míldio
Agente causal: Plasmopara viticola (Berk & Curtis) Berl.
& de Toni. Esta doença é também conhecida como peronóspora, mufa ou mofo e
causa sérios prejuízos à viticultura, podendo a produção ser perdida totalmente
quando não forem efetuadas medidas de controle. Geralmente as variedades de
uvas européias ( Vitis vinifera L. ) são mais suscetíveis ao míldio que as
americanas e híbridas. É uma doença séria nas regiões úmidas e quentes.
O míldio afeta todas as partes em desenvolvimento da
videira. Nas folhas os primeiros sintomas são um amarelo pálido, na face
superior folha (mancha de óleo),e, na face inferior, por florescência branca.
São esporos do fungo que se disseminam facilmente.
As folhas, as flores e os frutos secam quando o ataque é
intenso. Os frutos adquirem coloração cinza-azulada e mumificam-se. As
variedades viníferas são mais suscetíveis que as americanas.
O controle pode ser feito com calda bordalesa, ferbam,
carbendazin, Dithane M-45, Captan ou Zineb. A calda bordalesa é a que propicia
melhor vegetação e, conseqüentemente, melhor produção (Salim Simão et al.
1998).
Além das doenças descritas, GALLI et al. (1968) citam ainda
a podridão amarga (Melanconium fuligineum Cav) e a podridão da uva madura
(Glomerella cingulata Ston).
A primeira causa dano aos cachos já formados e nos colhidos
e armazenados. A doença, atingindo o engaço, dificulta a passagem da seiva e as
bagas enrugam-se. Quando a doença atinge a baga, esta toma coloração parda,
apodrece e cai. O sabor se torna amargo.
A podridão da uva pode ocorrer no pé ou durante o
armazenamento e a comercialização. Os sintomas são manchas pardo-avermelhadas
que chegam a recobrir o fruto todo, sobre as quais se notam pontuações
ligeiramente salientes.
Os frutos atacando desprendem-se com facilidade, não
apresentando, como no caso anterior, sabor amargo.
Recomenda-se, para o controle das duas doenças, o uso de
Maneb eZineb, Benomyl, Dithane M-48 (Salim Simão et al. 1998).
Fig. 1. "Mancha de óleo" típica de míldio (Foto:
G. Nakashima).
Parte de baixo da
folha com frutificação do fungo. (Foto: G. Nakashima).
Sintoma de míldio no
cacho "grão preto". (Foto: G.
Nakashima).
Tabela 1. Eficácia
média de fungicidas recomendados para o controle do míldio baseado em
resultados de três anos de avaliação. Bento Gonçalves, 1998.
Princípio ativo Concentraçãog
i.a. (%) Doseg i.a./hl Ação do produto Eficácia(%) Classe
toxicológica
Folpet 50 90 Contato 70 a 90 IV
Oxicloreto de cobre 50 137,5 Contato <70 IV
Oxicloreto de cobre + Mancozeb 20 + 20 60 + 60 Contato 70
a 90 III
Sulfato de cobre 25 240 Contato 70 a 90 IV
Mancozeb 80 240 Contato 70 a 90 III
Ditianon 75 93.75 Contato >90 II
Cymoxanil + Mancozeb 8
+ 64 20 + 160 Penetrante + Contato >90 III
Metalaxil + Mancozeb 8
+ 64 24 + 192 Sistêmico + Contato >90 II
10.4. Declínio da Videira
Agente causal: Eutypa lata (Pers.:Fr) Tul. et c. Tul.
Libertella blepharis A. L. Smith). O declínio da videira tem sido, nos últimos
anos, a principal doença desta cultura, em algumas regiões do município de
Jundiaí (SP), principalmente sobre a variedade Niagara.
Em condições de campo, o agente causal tem desenvolvimento
vagaroso, decorrendo 3 a 4 anos para a parreira atacada mostrar os sintomas
iniciais do declínio. Os pés doentes manifestam definhamento progressivo que
paulatinamente acaba pela morte da planta. O começo da doença se dá em seguida
à operação da poda geral e, ao sobrevir o abrolhamento, a brotação nova vem
muito desigual com os brotos sem uniformidade. As folhas se formam anormalmente
menores, com o broto crestado, o limbo tem coloração amarela com áreas
bronzeadas e nota-se logo ausência de florescimento. Grande quantidade de
brotos morrem e secam ao atingirem meio a um centímetro de comprimento,
assumindo coloração de palha. Estes aspectos constitui o primeiro sinal visível
da presença da infecção. Esta se dá através dos cortes e ferimentos próprios da
poda e, em sendo assim, a poda é a responsável pela principal transmissão do
declínio.
Para o controle deve arrancar e incinerar todas as videiras
doentes, bem como queimar a galharia e outros restos da poda. Antes desta
operação, efetuar um rigoroso tratamento de inverno, tal como se faz para
combater a antracnose;desinfetar com água sanitária todas as ferramentas
utilizadas na poda dos pés afetados pelo declínio; na formação de novas parreiras,
empregar estacas de cavalos e de garfo provindo de região onde não há o
declínio das videiras.
10.5. Viroses
As viroses – doenças causadas por vírus – das videiras
assumem, na viticultura atual, uma das maiores ameaças, a ela impondo prejuízos
de considerável importância. Pela redução que determina à produtividade
(redução do número e do tamanho dos cachos); pela restrição que ocasionam ao
vigor e à longevidade das cepas alocadas.
Duas importantes viroses afligem, de longa data, a
viticultura mundial: o nó-curto (court-noué, roncer, fanleaf) e o enrolamento
da folha (enroulement, leaf roll).
O combate restringe-se a medidas preventivas: evitar o
emprego de material de propagação (estacas, bacelos, garfos) infectado. Já que
não se conhece, por enquanto, vetor algum do vírus, este passa das plantas
atacadas para a sadia por via vegetativa.
10.6. Enrolamento da folha
Embora nas
cultivares viníferas esta virose cause sérios prejuízos, em cultivares
americanas ou híbridas, por apresentarem maior tolerância, os efeitos negativos
da doença são menos pronunciados, mesmo assim, podem causar perdas
consideráveis na produção, afetando, inclusive, o teor de sólidos solúveis e a
acidez titulável do mosto. A doença
do enrolamento da folha é causada por um complexo de oito vírus (Grapevine
leafroll-associated virus, GLRaV), embora cada um dos vírus do complexo possa
ocorrer de forma isolada. No Brasil, já foram detectados os vírus GLRaV-1 e -3
e, mais recentemente, o GLRaV-2 em vinhedos paulistas.
As videiras americanas e híbridas não mostram os sintomas
característicos da doença. Pode ser observado, em cultivares como Niágara
Branca, Niágara Rosada e Concord, leve enrolamento e, às vezes,
"queimadura" entre as nervuras principais, bem como redução no
desenvolvimento da planta. Na cultivar Isabel, a redução no crescimento é o
sintoma mais evidente. As cultivares de porta-enxertos não mostram qualquer
sintoma nas folhas quando infectadas pelo vírus, o que torna impossível a
distinção entre plantas sadias e doentes pela simples observação.
Sintomas
característicos da virose do Enrolamento
da folha em cultivar
Vinífera. (Foto: G. Kuhn)
10.7. Escoriose
Agente causal:Phomopsis vitícola (Sacc.) Sacc. È uma doença
importante em regiões com excesso de chuvas, principalmente quando, após a
brotação, a planta permanece molhada por vários dias.
A escoriose se manifesta principalmente na base dos ramos do
ano, apresentando os seguintes sintomas: necroses fusiformes ou arredondadas
escuras, rachaduras e escoriações superficiais no córtex. No outono os ramos
poderão se tornar esbranquiçados a partir de sua base e conter pequenos pontos
negros que são os picnídios do fungo. Os ataques podem ocorrer nas nervuras
principais de folhas jovens, pecíolos e pedúnculo. No limbo foliar, forma manchas
arredondadas de 3 mm a 15 mm de diâmetro, sendo escura no centro e
amarela(cloróticas) na periferia. Os
ramos de ano podem quebrar facilmente devido ao intumescimento da sua inserção.
Devido à morte das gemas basais a poda deve ser realizada na parte mediana do
ramo, que distancia muito a produção da cepa, causando desequilíbrio da planta.
O controle é por meio do uso de material de propagação
sadio, queima dos restos de cultura e uso de fungicidas.No inverno, reduzir o
inóculo pela remoção e destruição dos ramos doentes e/ou tratamento com calda
sulfocálcica antes do inicio da brotação.
Na primavera, o controle deve ser realizado nos estádios inicias da
brotação, por ser a fase mais sensível da planta, é nesta época que as condições
climáticas são mais favoráveis ao patógeno. Sendo recomendados tratamentos nos
estádios 05 (ponta verde) e 09 (duas a três folhas separadas).
Sintomas de
escoriose nos ramos.(Foto: G. Nakashima).
Sintomas de
escoriose nas folhas.(Foto: G. Nakashima).
10.8. Fusariose
Agente causal:
Fusarium oxysporum f.sp. herbemontis. Esta doença causa redução drástica da
produtividade da videira por provocar a mortalidade de plantas, além de ser uma
doença de difícil controle.
A fusariose é uma doença vascular, provocando interrupção na
translocação da seiva. A doença reduz o crescimento de brotos, e provoca
escurecimento interno da madeira, murchamento de folhas e de cachos. Os cachos
murcham ainda verdes ficando aderidos aos ramos. As plantas infectadas podem
morrer subitamente, normalmente em reboleiras. Em outras plantas pode-se
verificar brotações no tronco, que também morrerão com a evolução da doença.
As medidas de controle são preventivas, pois o controle
químico não é eficaz. As medidas preventivas recomendadas são: plantar em áreas
livres da doença, adotar práticas que não provocam ferimentos ao sistema
radicular, escolher solos bem drenados para a instalação do vinhedo, usar
material de propagação sadio. Em áreas já contaminadas deve-se proceder ao
arranquio das plantas infectadas com o máximo possível de raízes e queimá-las,
aplicar cal virgem nas covas, evitar o uso de máquinas em áreas contaminadas e
depois em áreas de vinhedos sadios, controlar a erosão para evitar o escoamento
de águas superficiais de áreas contaminadas para áreas não contaminadas. A
principal medida de controle é a utilização de porta-enxertos resistentes. O
porta-enxerto Paulsen 1103 tem mostrado boa tolerância à fusariose, enquanto o
porta-enxerto So4 é muito suscetível; a cv. Isabel de pé franco apresenta boa
tolerância ao patógeno.
Sintoma de fusariose
na região do tronco da planta. Corte transversal (Foto: L. Garrido).
10.9. Cancro bacteriano
Agente causal: Bactéria Xanthomonas campestris pv. Viticola.
Foi identificada pela primeira vez no Brasil em 1998, em vinhedos do Submédio
do Vale do São Francisco (PE e BA) e no Piauí. É atualmente, a doença
bacteriana da videira mais importante, especialmente na Região do Vale do São
Francisco, considerando a suscetibilidade das cultivares plantadas, a natureza
da doença, que pode ocorrer de forma sistêmica (infecta toda a planta), e as
condições climáticas favoráveis. Nas demais regiões vitícolas do país, embora
ainda não seja conhecida, a doença tem uma importância potencial, visto que de
modo geral as cultivares de Vitis vinifera são suscetíveis. O patógeno é
transmitido principalmente através do material propagativo infectado e por meio
de ferramentas utilizadas nas operações de desbrota, poda, raleio de bagas e
colheita.
Os sintomas ocorrem na folha com pequenas manchas angulares
escuras, circundadas ou não por um halo amarelado, distribuídas de forma
esparsa ou concentradas próximo às nervuras e bordas das folhas. Nas nervuras e
pecíolos podem aparecer manchas escuras, alongadas e irregulares. Nos ramos
verdes e em ramos maduros, ocorre a formação de cancros e rachaduras
longitudinais. No cacho, ocorrem fissuras e fendas necróticas no engaço e
lesões escuras ligeiramente arredondadas nas bagas. Em cachos já formados, após
a necrose da ráquis e de pedicelos, ocorre murcha das bagas. Os sintomas variam
em intensidade, dependendo da cultivar afetada. No Submédio do Vale do São
Francisco, a cultivar Red Globe e algumas cultivares sem sementes, principalmente,
aquelas originadas da cultivar Thompson Seedless, têm se mostrado mais
sensíveis, apresentando alta incidência em alguns parreirais. Cultivares
suscetíveis têm a produção reduzida e as plantas infectadas, geralmente,
produzem cachos com sintomas de cancro no engaço, o que torna a uva de mesa sem
valor comercial.
O controle mais eficiente da doença está na utilização de
mudas e material propagativo sadio, de modo a evitar introdução da doença na
propriedade. Especialmente em regiões onde a doença não é conhecida os cuidados
devem ser redobrados, evitando-se a introdução de material propagativo das
regiões onde a doença já foi detectada. Além do material propagativo deve-se
controlar também a introdução de uva, especialmente para vinificação, pois a
bactéria pode contaminar os cachos (pedúnculo, engaço), os quais, após a
eliminação da cantina são distribuídos como matéria orgânica nos vinhedos,
podendo transformar-se, assim, num meio de introdução e disseminação da
bactéria nos vinhedos. Em região de ocorrência do cancro bacteriano, o manejo
da doença deve ser feito, principalmente, no período seco, época desfavorável à
infecção. Entre as principais medidas podemos citar a poda de ramos infectados,
a poda drástica ou poda de recepa, a eliminação de plantas com altos níveis de
infecção, a desinfestação de tesouras e de canivetes, a queima de restos de
cultura, principalmente aqueles resultantes da poda de ramos e de cachos
infectados e da eliminação de plantas doentes. No Brasil, ainda não há produtos
registrados para o controle do cancro bacteriano em videira. Entretanto,
produtos à base de cobre têm sido utilizados em pulverizações e
pincelamentos. Na avaliação da
resistência de vários materiais de videira ao cancro bacteriano, observou-se em
condições de campo, que V. viniferafoi altamente suscetível à doença, enquanto
V. labrusca apresenta certa resistência.
Sintomas em ramos e
folhas causados pela bactéria
Xanthomonas campestris pv. viticola.
(Foto: G. Kuhn).
11. Pragas
A videira, à semelhança de outras culturas, é suscetível ao
ataque de vários insetos e ácaros. Até a presente data, entretanto, as pragas
não têm sido consideradas um fator limitante para a produção vitícola no Vale
do Submédio São Francisco, uma vez que vêm sendo eficientemente controladas com
o uso de agroquímicos.
11.1. Cochonilhas
As cochonilhas são insetos, de modo genérico, reconhecíveis
porque vivem grudados ao caule, tronco, sarmentos e bacelos das parreira, que
danificam as plantas através da sucção de seiva, cobertos por escudo ceroso, às
vezes duro e resistente, outras vezes mais facilmente atacáveis por remédio.
Provocam fitotoxicidade devido à injeção de enzimas digestivas, depositam
excreções açucaradas nas folhas, resultando no aparecimento da fumagina e, às
vezes, são responsáveis pela transmissão de agentes patogênicos. Como medida de
controle, recomenda-se a poda de inverno que ajuda a eliminar o inseto dos
ramos infestados. Após a poda, deve-se pincelar com sulfato de ferrro a 30% ou,
mais adotado atualmente, pulverizaçõe antes do inchamento das gemas, quer com
calda sulfocálcia a 38 Baumé (1 litro de calda + 8 de água), quer com
pulverizações de dinitro-ortocresol (Rafatox, Selinon, EK 54), a 1% em água, ou
ainda, com mistura de ½ litros de Dinoseb( Gebutox) + 2 litros de óleo mineral
miscível + 100 litros de água (Julio Seabra Inglez de Souza et al.1996).
Associam 1% de óleo mineral ou vegetal para auxiliar na ação dos inseticidas,
porém, dependendo dos cultivares, como a Concord, pode ocorrer fitotoxicidade,
sendo necessário utilizar menores concentrações.É importante que o controle
seja direcionado à fase de ninfa, que geralmente ocorre no início da brotação,
visto que quando a fêmea está completamente desenvolvida, os inseticidas não
atingem os ovos mantidos sob a carapaça, reduzindo a eficiência do tratamento.
Além disso, o período de alimentação do inseto é maior, aumentando os danos à
planta. As espécies descritas a seguir são importantes em vinhedos da região
Sul do Brasil.
Parda ou do ramo-novo
Parthenolecanium persicae (Fabricius, 1776) (Hemiptera:
Coccidae): : A cochonilha-parda apresenta uma geração por ano, reproduzindo-se
por partenogênese no período de outubroa de zembro.
Cochonilha-parda em ramos de videira.(Foto: M. Botton)
Cochonilha-parda em ramos de videira. (Foto: M. Botton)
Cochonilha-do-tronco
Hemiberlesia lataniae (Signoret, 1869), Duplaspidiotus
tesseratus (Charmoy, 1899) e D. fossor (Newstead, 1914) (Hemiptera:
Diaspididae): As cochonilhas-do-tronco estão freqüentemente associadas aos
vinhedos, principalmente da cultivar Niágara, sendo muito semelhantes entre si.
Cochonilha-do-tronco. (Foto: M. Botton)
Cigarrinha-das-fruteiras
Aethalion
reticulatum (L., 1767) (Hemiptera: Aetalionidae): Como este inseto apresenta
hábito gregário, as ninfas (Figura 8) são facilmente destruídas manualmente, o
que pode ser feito no momento da poda de inverno.
Cigarrinha-das-fruteiras em ramo de videira. (Foto: M.
Botton).
11.2. Ácaros da videira
Os ácaros que atacam a videira têm sido mais prejudiciais às
cultivares viníferas produzidas em regiões tropicais, onde o clima é seco,
favorecendo a multiplicação. A espécie que mais destaca é o ácaro branco.
Ácaro branco
Polyphagotarsonemus latus (Banks, 1904) (Acari:
Tarsonemidae): O ácaro branco é uma praga polífaga, sendo que na cultura da
videira o ataque resulta num encurtamento dos ramos devido a alimentação
contínua nas folhas novas. Nas situações de elevada infestação, o controle deve
ser realizado com acaricidas específicos. Em baixas infestações, pode ser
empregado o enxofre, direcionando-se o tratamento às brotações novas.
Entretanto, o uso do enxofre pode causar fitotoxicidade em cultivares
americanas.
| Dano do ácaro
branco em ramos de videira. (Foto: M. Botton).
11.3. Mosca-das-frutas
A mosca-das-frutas tem sido relatada danificando
principalmente uvas de mesa, embora em vinhedos destinados ao processamento os
danos ainda não tenham sido avaliados. Suas larvas vermiformes e sem pernas
causam destruição parcial da polpa, determinando seu posterior apodrecimento.
Das moscas de frutas, a que mais comumente estraga a uva é Ceratitis capitata
Wiedl, internacionalmente conhecida como mosca do Mediterrâneo; tem
aproximadamente o tamanho das moscas caseiras, de coloração amarelada-marrom,
com tórax pintado de preto e branco e asas desenhadas mosaicos.
O melhor combate consiste em tratamentos atrativos
envenenados (iscas) ou seja, pulverizações com solução de Malathion ou Fenthion
+ melaço. Outra receita é dimethoate (Cygon, Fentron, Roxion); vercaptothion
(Avigard, Chemthion, Datathion, Extermathion, Maladrex, Malasol, Malathion) ou
trichlorfon (Danex, Dipterex) + um atrativo que pode ser açúcar ou proteína de
peixe solúvel (cheiro forte que chama as moscas para a isca mortal) + água
(Julio Seabra Inglez de Souza et al. 1996). Exemplo: 300g de dimethoate 20% pó
solúvel + 600g de proteína de peixe solúvel +100 litros de água. Aplicar 50
litros/há.
Além destes remédios, que são eficiente, há ainda as
armadilhas à base de metil-eugenol, que atraem os machos das moscas e que, uma
vez aprisionados, são facilmente liquidados.
Mosca-das-frutas fêmea (esquerda) e macho (direita). (Foto:
E. Hickel).
11.4. Filoxera
A Filoxera ( Phylloxera vitifoliae) é um inseto sulgador de
menos de 2 milímetro de comprimento, dificilmente perceptível a olho nu, munido
de um bico com o qual suga a seiva das folhas e raízes, da videira para a sua
alimentação. Para o controle desta praga, não existem inseticidas que possam
ser empregados de forma econômica para o controle do inseto nas raízes. O
emprego de inseticidas neonicotinóides auxilia na redução de infestações no
sistema radicular, porém, de forma isolada, não são eficientes para evitar que
ocorram prejuízos à cultura, além da possibilidade de selecionar populações
resistentes. A maneira mais eficiente para evitar os danos do inseto é através
do emprego de porta-enxertos resistentes. De modo geral, todos os
porta-enxertos empregados na região de clima temperado são resistentes.
Nodosidades causadas
pela filoxera em raízes de videira. (Foto: M. Botton).
Galhas da filoxera
em folhas de porta-enxerto. (Foto: M. Botton).
11.5. Pérola-da-terra
A Pérola-da terra, Eurhizococcus brasiliensis (Hempel, 1922)
(Hemiptera: Margarodidae) A pérola-da-terra é uma cochonilha subterrânea que
ataca as raízes de plantas cultivadas e silvestres. O inseto é considerado a
principal praga da videira sendo responsável pelo abandono da cultura em várias
localidades devido as dificuldades de controle. A sucção da seiva efetuada pelo
inseto nas raízes provoca um definhamento progressivo da videira, com redução
na produção e conseqüente morte das plantas.
Para prevenir sua introdução em áreas indenes, sugerem-se as
seguintes medidas: não plantar estacas enraizadas ou mudas de videira
procedentes de locais onde a praga ocorra; evitar o plantio na propriedade de
plantas hospedeiras da praga, procedentes de áreas infestadas; tratar as mudas
de videira dormentes mediante imersão em água quente a 50°C por cinco minutos
ou expurgo com fosfina por perído de três dias. Já em áreas onde a praga está
presente pode-se proceder a aplicação de inseticidas sistêmico granulados no
solo (Botton et al. 2000) verificaram eficiência de tiametoxã e de
imidaclopride; o primeiro, em formulação granulada, pode ser aplicado
diretamente no solo, mediante a abertura de sulco ao redor da planta, o segundo
deve ser diluído em água e regado no solo, na região onde se encotra o sistema
radicular da videira.
O método ideal para controle dessa praga seria o uso de
porta-enxertos resistentes. Pesquisas nesse sentido vêm sendo conduzidas pelo
IAC na região de Angatuba, Sp, e área infestada pelo inseto, onde o
porta-enxerto IAC 571-6 apresentou resistência moderada, em comparação com
Ripária do Traviú. Ainda nessa linha de pesquisa, (Soria et al. I999) também
verificaram comportamento diferenciado de porta-enxertos de videira derivados
de Vitis rotundifolia, os quais mostraram-se mais resistentes do que
porta-exertos pertencentes a difernetes espécies de Vitis, em solo infestado
por E. brasiliensis, na região de Bento Gonçalves, RS.
Pérola-da-terra em
raízes de videira. (Foto: G. Kuhn).
12. Colheita
12.1. Previsão de
colheitas e produtividade
As condições tropicais favoráveis ao cresci¬mento contínuo
das videiras permitem que a época das podas sejam reguladas pela demanda de
mercado, podendo-se obter colheitas escalonadas ou concentra¬das. Sabendo-se
que os ciclos feno lógicos das cultivares Itália e Piratininga são de 110 a 120
dias e que o período de repouso entre os ciclos é de 30 dias, estabelece-se que
uma área pode produzir duas vezes e meia ao ano de forma equilibrada e sem que
as plantas sejam esgotadas.
No processo produtivo da videira é importante que se faça
uma previsão da quantidade de uvas a serem colhidas em função da demanda. Para
estimar a produtividade de um vinhedo, os seguintes cálculos são possíveis:
Ø através da
poda chega-se a um padrão para a área de unidades de produção por planta (UPP)
que é calculado pela seguinte fórmula:
UPP = BS x UP, em que:
BS = braços secundários por planta;
UP = unidades de produção por braço secundário
Ø para o
cálculo do total de cachos por hectare (CPH), tem-se que:
CPH = UPP x NBF x pl/ha, em que:
UPP = unidades de produção por planta ou varas por planta;
NBF = número de brotação férteis;
Pl/ha = plantas por hectare, de acordo com o espaçamento.
Exemplo:
Supondo-se que num vinhedo da cultivar Itália estabelecido
no espaçamento de 4 x 2 m (1.250 plantas/hectare) todas as plantas fiquem, após
uma poda bem executada, com cinco (5) braços secundários e que cada braço tenha
três (3) unidades de produção, ou seja, três varas produtivas com oito gemas
cada, e considerando-se a fertilidade destas como sendo de três cachos em
média, tem-se, pela aplicação das fórmulas:
UPP = 5 x 3 = 15
CPH = 15 x 3 x 1.250 = 56.250 cachos/ha
Dispondo-se de 56.250 cachos por hectare e sabendo-se queO
PESO IDEAL dos cachos, para fins de
exportação, é de 400 a 500 g, calcula-se que a média de produtividade da área
será a seguinte:
56.250 cachos/ha x 0,450 kg = 25.312 kg/ha
Para que o cálculo da produtividade de uma área possa ser
preciso é indispensável que as podas e a condução dos ramos sejam bem
executadas, que as plantas estejam nutricionalmente bem equilibradas, não
havendo problemas com a fertilidade dos ramos brotados.
12.2.Ponto de colheita
A maturação das uvas é um processo fisiológico que se
caracteriza pelo incremento do conteúdo de açúcar, a diminuição da acidez, o
aumento das antocianinas responsáveis pela coloração da película das uvas
rosadas e pretas e a modificação da textura e do aroma típicos de cada
cultivar.
É de fundamental importância que a colheita dos cachos seja
realizada no ponto ideal para o consumo, pois as uvas cessam o processo de
maturação após terem sido colhidas, permanecendo inalterados os teores de
açúcares e de ácidos.
Normalmente, as uvas são colhidas quando o teor de sólidos
solúveis atinge nível superior a 15° Brix, uma vez que, sob condições
tropicais, elas são menos ácidas e apresentam boa palatabilidade, ainda que
possuam um teor de açúcares comparativamente menor. O teor de açúcar das uvas é
determinado pelo refratômetro.
Outro aspecto, de relevante importância, associado às uvas
colhidas para exportação, diz respeito ao tamanho dos bagos, que devem medir,
no mínimo, 22 milímetros de diâmetro. Quando o vinhedo é conduzido segundo as
recomendações desta publicação1[1][1], o percentual de uvas com esse diâmetro é
alto, resultando no aproveitamento quase que total dos cachos para exportação.
12.3.Colheita manual
Os colheitadores devem colher os cachos ma¬duros, cuja
película apresente coloração o mais uni¬forme possível, cortando os pedúnculos
bem compridos, o que evita a desidratação do engaço. Os cachos são
cuidadosamente colocados, em camada única, em contentores próprios para
colheita com 10 kg de capacidade. Esses contentores devem ser revestidos com um
forro de polietileno expandido ou similar de 4 mm de espessura, para que não
haja danos mecânicos nos cachos.
A manipulação dos cachos pelos trabalhadores deve ser
mínima, para evitar que as uvas percam a pruína (cerosidade natural), que lhes
dá um aspecto de frescor e as tomam apetecíveis para os consumidores.
É conveniente que a colheita seja feita nas horas mais
frescas do dia e que os contentores sejam imediatamente levados para o setor de
embalagem da fazenda. Desse modo, as uvas apresentarão menor tem peratura,
demorando menos tempo para perder o calor do campo.
12.4. Embalagem
A embalagem das uvas pode ser feita em galpões abertos ou
fechados, com refrigeração (“packing house”). Tratando-se de frutas para
exportação, é muito importante que o produtor disponha de um local bem
sombreado e arejado onde possa embalar as uvas e que as caixas não fiquem
expostas ao sol, quer se trate dos contentores que chegam do campo ou das
caixas de uvas embaladas.
Os cachos são limpos e os bagos danificados e ou muito
pequenos são eliminados. A seguir, são selecionados, segundo a classificação e
a categoria a que pertencem.
Utilizam-se, para embalar as uvas, caixas de papelão
parafinado, especificamente confeccionadas para esse fim.
12.5.
Armazenamento
Uma vez colhidas e em baladas, as uvas devem ser armazenadas
e transportadas sob condições adequadas, para que possam chegar ao consumidor
em ótimas condições de consumo. Os seguintes cuidados são, pois, indispensáveis:
Tratamento com anidrido sulfuroso
Para retardar a ocorrência de podridões por fungos nas uvas
que vão ser armazenadas, recomenda-se fumigá-las com anidrido sulfuroso. Este
tem uma ação fungicida, que elimina todos os fungos que existem sobre os cachos
e também conserva a colo¬ração verde da ráquis por mais tempo.
A aplicação do anidrido sulfuroso pode ser feita de
diferentes maneiras, seja em câmaras de fumigação, pela queima de enxofre ou
pela liberação direta do gás comprimido proveniente de botijões, seja mediante
a colocação em cada caixa de uva, de um papel gerador dessa substância.
Refrigeração
A elevada transpiração das uvas colhidas de¬corre da alta
temperatura com que as frutas chegam do campo. É necessário, portanto,
submetê-las a um pré¬-resfriamento por duas a três horas, a fim de provocar a
queda substancial dessa temperatura, com vistas à uma melhore mais prolongada
conservação do produto.
Depois do pré-resfriamento, as caixas são co¬locadas em
câmara fria para conservar as uvas, caso elas não sejam comercializadas de
imediato.
13. Referência
Bibliográfica
Pommer, Celso Valdevino. Ed Uva: tecnologia de produção,
pós-colheita, mercado/editado pr C.v.Pommer, 2003.
Salim Simão Tratado de fruticultura. –Piracicaba: FEALQ,
1998.
Uvas para o Brasil / Coordenação de Julio Seabra Inglez de
Souza. Piracicaba: FEALQ, 1996
Fortunato Garcia Braga Cultura da uva niágara rosada /.- São
Paulo: Nobel, 1988.
GALLOTTI, G.J.M. & GRIGOLETI JÚNIOR, A. Doenças fúngicas
da videira e seu controle no Estado de Santa Catarina. Florianópolis, EMPASC,
1990.
Embrapa Uva e Vinho Sistema de Produção, 2ISSN 1678-8761
Versão Eletrônica, Jul./2003
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