Cultivo da
Videira Niágara Rosada em Regiões Tropicais do Brasil
Apresentação
A história
da viticultura nas regiões tropicais brasileiras compõe um cenário que mescla o
ceticismo e a ousadia inicial, a organização setorial, osINVESTIMENTOS públicos e a evolução tecnológica na fase de
implantação/consolidação, a projeção nacional e internacional e o sucesso
empresarial dos anos 1980 até meados da década de 1990 e a natural necessidade
de ajustes das características dos produtos ofertados às exigências do mercado
consumidor, em constante mudança.
Neste
contexto, já em meados da década de 1980 alguns viticultores, sobretudo aqueles
pequenos e médios localizados na região noroeste do Estado de São Paulo,
sentiram a necessidade de buscar outras alternativas varietais no sentido de
ajustar a matriz produtiva, baseada principalmente na variedade Itália e sua
mutação Rubi às novas exigências, gostos e preferências do mercado consumidor.
Entre as diferentes alternativas possíveis havia um interesse especial pela
variedade Niágara Rosada, tanto pela boa aceitação que tem no mercado
consumidor brasileiro quanto pelo relativo baixo custo de produção e
possibilidade, neste caso, de produzir na entressafra das tradicionais regiões
produtoras, (Região Sul do Brasil e Leste Paulista). Entretanto, as
dificuldades no ajuste do manejo da variedade naquelas condições tropicais, até
então não estudado, inviabilizavam a sua exploração comercial devido a baixa
produtividade das plantas.
A partir do
início da década de 1990, com a criação da Estação Experimental de
Viticultura
Tropical (Jales-SP), vinculada ao Centro Nacional de Pesquisa de Uva e Vinho da
Embrapa, deu-se prioridade ao trabalho de avaliação e adaptação de variedades
americanas e híbridas com características e potencial para virem a ser a
alternativa então buscada pelos viticultores. Os resultados obtidos
evidenciaram, confirmando as expectativas, o potencial da variedade Niágara
Rosada. Como normalmente acontece na experimentação agropecuária aplicada, a
medida em que os resultados iam sendo obtidos pela pesquisas eram gradualmente
difundidos através de dias de campo, palestras etc, o que justifica o fato de
muitas das informações disponibilizadas nesta obra já .se encontrarem
incorporadas às práticas culturais nos diversos pólos vitícolas nacionais como
Jales-SP; Pirapora-MG; Marialva e Bandeirantes-PR e Primavera do Leste e Nova
Mutum-MT.
Portanto, é
com muita satisfação que a Embrapa Uva e Vinho lança o presente Sistema de
Produção para a "Cultura da Niágara Rosada em Áreas Tropicais do
Brasil", ciente da importância do mesmo para a cadeia produtiva vitícola
tropical brasileira, assumindo ao mesmo tempo o compromisso de continuar
avançando nas pesquisas de forma a, periodicamente, atualizar estas informações
dando ainda mais capacidade competitiva a esta importante alternativa que ora
colocamos à disposição dos viticultores.
O Clima em
Regiões Tropicais do Brasil
De acordo
com a classificação de Köppen apresentada por Pereira et al. (2002), as regiões
brasileiras podem ser agrupadas em três grupos de climas, identificados pelas
letras A, B e C. Os tipos A e C identificam climas úmidos, enquanto o tipo B
identifica clima seco. O tipo A é denominado megatérmico ou tropical úmido, e
apresenta temperatura média do mês mais frio acima de 18°C. O tipo C é
denominado mesotérmico ou temperado quente, apresentando temperatura média do
mês mais frio entre -3°C e 18°C. Por esse critério, algumas regiões do sudeste
e centro-oeste brasileiro que apresentam um subtipo de clima denominado
tropical de altitude, não são classificadas entre as regiões tropicais úmidas
(tipo A), caracterizando-se como de clima temperado quente (tipo C). Já a
região mais seca do Nordeste brasileiro, apesar de apresentar temperatura média
do mês mais frio superior a 18°C, é caracterizada como possuindo um clima seco
(tipo B), sendo classificada como clima semi-árido quente. No presente trabalho
serão consideradas, assim, como regiões de clima tropical apenas aquelas que se
enquadram no tipo A, denominado tropical úmido.
Entre os
diferentes subtipos relacionados ao clima tropical úmido destacam-se o Af, que
apresenta chuvas bem distribuídas ao longo do ano, como no oeste da Amazônia e
parte do litoral do sudeste; o Am, com pequena estação seca, como ocorre no
leste da Amazônia; o Aw, com inverno seco e chuvas máximas de verão, que ocorre
nas regiões norte, centrooeste e parte do interior do sudeste; o Aw', que é
semelhante ao Aw, mas com a ocorrência de chuvas máximas no outono, como ocorre
no norte dos estados do Maranhão, Piauí e Ceará; e o As, com maior incidência
de chuvas durante o outono e o inverno, que ocorre em parte do litoral do
Nordeste, principalmente entre o norte da Bahia e a Paraíba (Pereira et al.,
2002).
O cultivo da
videira Niágara Rosada (Vitis labrusca L.) em regiões tropicais é recente,
restringido-se às áreas com classificação climática Aw, aquelas com inverno
seco e chuvas máximas de verão. Nessas áreas, tem-se buscado a obtenção de uma
safra no período mais seco do ano, sob irrigação, deixando-se o período mais
úmido para o ciclo de formação dos ramos, com ou sem obtenção de uma safrinha.
Em outras regiões tropicais não deve haver grandes limitações ao cultivo dessa
variedade, sendo que nas regiões de clima Af e Am, onde ocorrem mais
precipitações ao longo do ano, a incidência de doenças fúngicas, como o míldio
será mais intensa, exigindo um programa de tratamentos mais sistemático. Além
disso, nas regiões de menor latitude a uva poderá ter sua coloração prejudicada
devido as temperaturas mínimas serem relativamente altas. Por outro lado,
nessas regiões as temperaturas mais altas favorecem a quebra de dormência das
gemas e o desenvolvimento dos brotos após a aplicação de cianamida hidrogenada.
Implantação
do Vinhedo
Escolha da
área Áreas de meia encosta, aptas a mecanização, próximas a fonte de águas para
a irrigação devem ser preferidas. Áreas de baixadas, também podem ser usadas,
porém a formação de orvalho mais freqüente nesses locais favorece a ocorrência
de doenças como o míldio e a antracnose. Os solos profundos e de textura média
devem ser os preferidos, pois facilitam o desenvolvimento do sistema radicular,
sendo contudo, mais susceptíveis à erosão. Deve-se evitar solos com
impedimentos subsuperficiais, mal drenados ou com lençol freático raso, pois
estes favorecem a ocorrência de doenças do sistema radicular como a fusariose
da videira, principalmente se tiver matéria orgânica em decomposição.
Preparo do
solo
Uma vez
definido o local, faz-se o preparo do solo. Inicialmente deve-se fazer a
limpeza da área, eliminando-se ou retirando-se os restos culturais. Em seguida
procede-se às amostragens do solo para análises, caso necessário faz-se as
correções da acidez e dos teores de fósforo e potássio, e a marcação das curvas
de nível para definir a posição dos terraços para contenção das águas de chuva.
Quando é construída mais de uma parreira, no mesmo sentido da declividade é
necessário fazer um terraço de base estreita entre as mesmas com dimensão
suficiente para captar toda a água de chuva, devendo-se considerar o maior
índice pluviométrico histórico do local. Após a confecção dos terraços, o solo
deve ser arado e gradeado. A correção da fertilidade é feita nesta etapa,
conforme é detalhado no item sobre adubação de correção.
Formação de
quebra ventos
A formação
de quebra-ventos no contorno da latada se faz necessário para diminuir a
velocidade do vento. O vento provoca a quebra de brotos, dificulta a orientação
dos ramos durante a formação dos braços causando deformações na estrutura da
planta. Algumas espécies para esta finalidade são: capim elefante (Pennisetum
spp.), cana-de-açúcar (Saccharam oficinarum), grevilea (Grevilea robusta),
eucalipto (Eucaliptus spp.), leucena (Leucaena leucocephala), bananeira (Musa
spp.), e Guandu (Cajanus cajan).
Escolha do
porta-enxerto
Atualmente
os principais porta-enxertos para a viticultura tropical brasileira são as
cultivares desenvolvidas pelo Instituto Agronômico de Campinas, IAC-313
'Tropical' (Figura1), IAC-572 'Jales'(Figura2) e IAC-766 'Campinas' (Figura3).
O IAC-572 'Jales' que foi introduzido na região noroeste paulista como sendo
Tropical (IAC 313), sem vírus, na verdade constatou-se que não se tratava do
IAC-313 (Camargo, 1998). Este fato tem causado alguma confusão entre os
viticultores, pois o porta-enxerto conhecido na região como sendo Tropical sem
vírus, na verdade não se trata da cv. Tropical e nem pode ser garantido que o
material esteja livre de vírus.
As três
cultivares adaptam-se bem às condições tropicais do Brasil, porém apresentam
diferenças quanto ao vigor. As mais vigorosas são a IAC-572 e a IAC-313,
seguidos pelo IAC-766. Entre estes porta-enxertos, o IAC-572 é o mais indicado
para o cultivo da cv. Niágara Rosada no sistema em latada. A diferença de vigor
entre o IAC-572 e o IAC-766 é bem pronunciado como pode ser observado na
Figura4. Devido à necessidade de formação de uma boa estrutura da planta já no
primeiro ano após a enxertia, o IAC-572 é o que oferece a maior possibilidade
de sucesso, uma vez que confere bom vigor à copa. O IAC 766 também pode ser
usado, porém confere maior suscetibilidade às cochonilhas do tronco. Das três
cultivares apenas o IAC 766 poderá ser indicado para cultivo da 'Niágara
Rosada' em sistema de espaldeira devido ser o menos vigoroso.
Fig. 1.
Broto do porta-enxerto IAC-313 'Tropical'. (Foto: J. Dimas G.M).
Fig. 2.
Broto do porta-enxerto IAC-572 'Jales'. (Foto: J. Dimas G.M)
Fig. 3.
Broto do IAC-766 'Campinas'. (Foto: J. Dimas G.M.)
Fig. 4.
Plantio de IAC-572 (D) e IAC-766 (E). Observa-se a diferença de vigor. (Foto:
J. Dimas G.M.)
Formação das
mudas de porta-enxertos
Para a
formação de mudas são retirados ramos lignificados com 10 a 12 meses de idade,
com 0,75 cm a 1,25 cm de diâmetro, de plantas sadias livres de vírus, no
período seco ('inverno'). Os ramos devem ser limpos (retirada de folhas,
gavinhas e brotos laterais), devendo ser utilizados o mais rápido possível. O
período ideal para iniciar a formação das mudas de porta-enxertos é nos meses
de junho a agosto quando o material está dormente. Se os ramos não forem
utilizados imediatamente, devem ser conservados em ambientes refrigerados com
temperatura de 5ºC e umidade relativa igual a 95%. Se a câmara fria não
dispuser de controle de umidade relativa, os ramos devem ser envolvidos com
papel úmido e acondicionados em sacos de plástico, fechados para não
desidratar, ou serem estratificados em areia grossa úmida em lugares
sombreados. Os ramos estratificados em areia grossa conservam-se por cerca de
21 dias, enquanto que em condições refrigeradas por até um ano.
Para a
formação das mudas de porta-enxerto, os ramos são cortados com 40 a 45 cm de
comprimento, com 4 a 5 gemas, sendo o corte basal horizontal a cerca de 1 cm
abaixo do nó e o superior a cerca de 3 cm a 4 cm acima da última gema. As
estacas podem ser colocadas diretamente nos saquinhos plásticos para
enraizamento (Figura 5a), onde são introduzidas em torno de 15 cm de
profundidade, ou serem colocadas para formação de calos em canteiros com uma
camada de areia grossa, em lugares sombreados. Neste caso, coloca-se os feixes
de estacas com as bases voltadas para baixo, deixando-se parcialmente cobertas
com areia (Figura 5b), mantidas úmidas durante três semanas através de
irrigações diárias para formação de calos. Após este período, as estacas são
introduzidas parcialmente nos saquinhos com o substrato. Em ambos os casos, os
saquinhos plásticos de polietileno preto perfurados devem ter 15 cm x 25 cm e
serem encanteirados em viveiros com cerca de 50% a 60% de sombra até os
primeiros 60 dias (Figura 6). Após este período, os canteiros podem ser
descobertos totalmente para a aclimatação das mudas.
O substrato
para o enchimento dos saquinhos deve ser preparado na proporção de 150 L de
esterco de curral curtido para 850 L de terra de barranco livre de nematóide,
caso o solo apresente baixos teores de matéria orgânica (< que 2,5%). A essa
mistura deve-se acrescentar mais 1 kg de calcário dolomítico, 0,50 kg de
superfosfato simples e mais 150 g de cloreto de potássio, se na análise de sólo
der fósforo-resina (< 12 mg/dm-3), e potássio (<0,15 mmol dm-3). Se o
solo apresentar baixos teores de boro (<1 mg/kg-1) deve se dar preferência
para adubos fosfatados que contenham micronutrientes, inclusive B na
formulação.
Fig. 5a.
Estacas colocadas para enraizamento. (Foto: J.Dimas G.M.)
Fig. 5b.
Feixes de estacas de porta-enxertos para formação de calos. (Foto: J. C.
Nachtigal)
Fig. 6.
Viveiro coberto com tela para formação das mudas. (Foto: J. Dimas G.M)
Espaçamento
O espaçamento para a cv. Niágara Rosada conduzida no sistema de latada é menor
que a recomendação para as uvas finas de mesa. O espaçamento entre linhas deve
ser de 2,50 m a 3,0 m, com 1,50 m a 2,0 m entre plantas. Dentro destes
intervalos, o espaçamento de 2,75 m x 2,0 m resulta em 1.900 plantas por
hectare (Figura 7). Este espaçamento possibilita a mecanização por pequenos
tratores e é adequado ao uso de irrigação por microaspersão, em função do raio
de alcance dos microaspersores.
Fig. 7.
Espaçamento (2,75 x 2,0 m) - Dois braços no mesmo sentido da rua. (Foto: J.
Dimas G.M)
Preparo das
covas
O preparo
das covas deve ser efetuado pelo menos um mês antes do plantio dos
porta-enxertos, seguido de irrigação, evitando-se, assim, possíveis danos às
raízes durante o processo de decomposição do esterco. As covas devem ser
abertas com enxadão e ter dimensões em torno de 50 cm x 50 cm x 50 cm; ou com
sulcador, necessitando-se, neste caso, ajustar as dimensões com o enxadão. Em
áreas com teor de matéria orgânica inferior a 2,5% aplicar 80 t/ha de esterco
de bovinos, o que corresponde a cerca de 50 litros/cova no espaçamento de 2,50
m x 2,0 m. O mau preparo de covas leva à formação de plantas com estrutura
deficitária, no que se refere ao número de varas por planta (Figura8), sendo
necessário, neste caso, uma poda de reforma (Figura9) cerca de 45 dias após a
aplicação de matéria orgânica enterrada em sulcos. Recomenda-se neste caso, o
uso de esterco de galinha (10 a 15 t/ha). A falta de vigor na formação das
plantas no primeiro ano seguido de poda de reforma no segundo faz perder uma safra.
Fig. 8.
Planta mal formada, estrutura deficitária no 1º ano, falta de vigor. (Foto: J.
Dimas G.M)
Fig. 9.
Planta reformada, com boa estrutura no 2º ano. (Foto: J. Dimas G.M)
Plantio dos
porta-enxertos
O sistema
tradicional de implantação de novas parreiras de uva em regiões tropicais
consiste no plantio dos porta-enxertos já enraizados no início do período
chuvoso e realização da enxertia diretamente no campo no início do período seco
seguinte. O plantio deve ser realizado preferencialmente nos meses de outubro a
dezembro podendo ser dispensada a irrigação até 15 dias antes da enxertia em
anos normais de precipitação, o que possibilitará a realização da enxertia
madura em junho ou julho do ano seguinte. No caso da cv. IAC-766, o plantio
deve ser realizado até o mês de novembro. Quanto mais cedo for o plantio do
porta-enxerto, assim como a realização da enxertia em cada período, melhor
será, porque assim será possível a formação das plantas ainda no período de
poucas chuvas, quando a ocorrência de doenças é menor. Além desta vantagem, a
enxertia mais cedo permite a realização das primeiras podas de produção já em
março ou abril do ano seguinte, época adequada para o início das podas de
produção. Durante o plantio, os saquinhos devem ser apoiados com uma das mãos e
cortados com cuidado para não desmanchar o torrão, momento em que são
eliminadas as pontas de raízes fora do torrão. Em seguida as mudas são passadas
para a outra mão para a retirada do saquinho, fazendo-se uma leve compactação
da terra adjacente ao torrão, sem desmanchá-lo. O plantio de estacas
diretamente no campo não é recomendado devido à dificuldade em se obter bom
pegamento, principalmente em áreas não irrigadas ou irrigadas inadequadamente.
Plantio de
mudas prontas O plantio de mudas de raiz nua ou enxertadas no saquinho, deve
ser feito, preferencialmente, nos meses de julho à agosto, para ter tempo
suficiente para a formação das plantas e maturação dos ramos até o início do
período seco do ano seguinte, época de inicio de podas de produção. Mudas
prontas só devem ser adquiridas em viveiros registrados, com garantia de
qualidade pelos órgãos de defesa sanitária vegetal do Estado. A irrigação é
fundamental para garantir o pegamento desse tipo de mudas no período seco.
Construção
da latada A latada deve estar pronta antes da época da enxertia, para evitar
danos aos enxertos durante a sua construção. Deve-se utilizar materiais
duráveis (madeira de eucalipto tratado ou postes de concreto; arames com
galvanização pesada e alta resistência mecânica) para garantir boa longevidade
da estrutura. O aramado deve ficar situado numa altura de 1,8 m a 1,9 m do solo
para facilitar o trabalho de máquinas e de operários.
Passos para
construção de uma latada: Demarcar os quatro cantos do parreiral.
Fincar os
cantoneiros (palanques) no solo a 1,5 m de profundidade.
Colocar os
três rabichos de quatro fiadas com arames n° 6 em cada cantoneiro a 1,5 m de
profundidade, sendo os dois laterais posicionados na projeção do alinhamento
das duas respectivas laterais e o terceiro no meio.
Esticar o
fio de contorno, cordoalha de 7 fios, através de uma talha na altura
preconizada e prendê-lo pelas presilhas.
Fincar os
postes laterais a 0,70 m de profundidade, com as bases alinhadas no perímetro
do parreiral, com seus respectivos rabichos de duas fiadas feitos com arames nº
8, posicionados nas projeções perpendiculares das respectivas laterais. Outra
opção é usar chapas âncoras, tirantes, cordoalhas e alças pré-formadas com
galvanização pesada e alta resistência mecânica . Se for usar a tela para
cobrir o parreiral, os postes externos devem ser de 2,5 m e 3,0 m de
comprimento, dispostos de forma alternada no contorno da latada. Neste caso,
são necessários postes de 3 m para esticar os arames que sustentarão a tela.
A ordem de
colocação dos arames é a seguinte: primeiro coloca-se arames n° 12, ou ovalado
com bitola de 2,4 m x 3,0 m e galvanização pesada, no mesmo sentido da rua.
Depois, os porta fios com arames n° 12 ou ovalado, com bitola de 2,4 m x 3,0 m
e galvanização pesada, sobre os anteriores, no sentido perpendicular ao da rua,
para sustentar os de n° 14 comum ou de 2,10 m de bitola, no mesmo sentido da
rua, os quais sustentarão as varas.
Independente
do espaçamento entre plantas, os arames da malha simples sempre serão esticados
na cordoalha externa, passando-os por cima de todos os arames que cruzam a
latada no sentido perpendicular, deixando-se uma distância entre eles de 30 cm
a 35 cm. Esta distância visa facilitar a grampeação dos ramos.
Amarrar os
arames da malha fina nos pontos sobre os arames porta fios, através de arame n°
18, objetivando-se mantê-los eqüidistantes, para não haver aglomeração dos
mesmos durante a retirada do material de poda. Em áreas onde há riscos de
granizo, ataque de pássaros, é necessário a cobertura do parreiral com tela de
polietileno especial, com aditivos anti-raios ultravioletas e 18% de
sombreamento.
Para colocar
a tela é necessário fixar os balancins de 1,5 m x 0,03 m x 0,04 m em todos os
postes internos, onde serão esticados e fixados em suas extremidades superiores
os fios n° 14 ou com 2,10 m de bitola, galvanização pesada, abaixo e acima da
tela, nos dois sentidos, e amarrados na cabeça dos postes de três metros para a
sustentação da mesma. A tela deve ficar posicionada a 1,0 m acima do aramado.
Fig. 10.
Sistema de condução em latada, coberto com tela antigranizo. (Foto: J. Dimas
G.M.)
Fig. 10b.
Demonstração de um croqui simplificado para a construção de uma latada para o
espaçamento de 2,75 m x 2,0 m. No croqui está representado a colocação dos
postes, dos arames, assim como o sentido das ruas e dos braços. (Ilustração: J.
Dimas G.M.)
Condução dos
porta-enxertos Os porta-enxertos devem ser tutorados em um sarrafo posicionado
verticalmente onde são conduzidos três a quatro ramos por planta, até o aramado
(Figura11). Durante a condução dos ramos é necessário fazer o desnetamento
(retirada de brotos laterais ainda jovens). O tutoramento visa possibilitar a
obtenção de troncos eretos, o que melhora a estética das plantas e possibilita
o uso de implementos tipo roçadeira em uma faixa maior nas entrelinhas. Os
tutores podem ser de madeira (sarrafos de 3,0 cm x 3,0 cm x 3,0 cm), ou de
bambu seco e ter vida útil mínima de dois anos.
Fig. 1.
Plantas de porta-enxertos tutoradas. (Foto: J. Dimas G.M)
Enxertia
Para a
formação das copas utiliza-se o método de enxertia garfagem simples, aérea,
diretamente no campo, podendo ser com ramos verdes ou maduros. Na figura 12
estão apresentados os materiais para a enxertia verde (herbácea) e madura
(lenhosa). Os garfos devem ser cortados com uma gema e ter 4 cm a 5 cm de
comprimento, sendo 1,5 cm acima e o restante abaixo da gema. Na base do garfo
devem ser feitos dois cortes com um canivete afiado começando a 1 cm abaixo da
gema, despontando-se na parte central da base, e dando um formato de cunha. No
preparo dos garfos, elimina se gavinhas e pecíolos. No campo escolhe-se os dois
melhores ramos do porta-enxerto, os quais são podados cerca de 40 cm a 50 cm do
solo. Em suas extremidades faz-se outro corte a 5 cm acima do último nó onde,
então, na parte central é feita uma fenda vertical de 2 cm de comprimento, onde
será encaixada a cunha do garfo. A cunha do garfo deve ser introduzida
totalmente dentro da fenda, justapondo-se suas superfícies, pelo menos de um
lado. Em seguida cobre-se o enxerto com uma fita plástica de 2 cm de largura,
iniciando-se a 1 cm abaixo da extremidade da cunha, seguindo-se o contorno do
enxerto com uma leve pressão, exceto a gema, até o topo do garfo onde é vedado,
retornando em direção ao início, onde é presa a extremidade da fita. Tanto na
enxertia verde como na enxertia madura é necessário que os porta-enxertos
apresentem bom vigor, que haja bom fluxo de seiva, boa justaposição dos tecidos
e boa cobertura do garfo, exceto a gema.
Fig. 12.
Materiais necessários para a realização da enxertia verde e madura. (Foto: J.
Dimas G.M)
Enxertia madura
Para a enxertia do tipo madura (com ramo lenhoso), utiliza-se garfos e ramos
lignificados com diâmetros semelhantes. Os ramos maduros devem ser retirados
com idade de 6 a 8 meses após a ultima poda, em plantas sadias, podendo ser
utilizados imediatamente ou conservados até a data de enxertia, através da
estratificação em areia grossa úmida por até três semanas, ou em câmaras
frigorificadas (T = 5°C, U.R =95%), por até um ano. Durante a enxertia devem
ser obtidos ou selecionados, bacelos com espessura de 0,7 cm a 1,2 cm de
diâmetro com uma gema intacta, para a realização de dois enxertos por planta a
uma altura de cerca de 50 cm do solo (Figura 13). A enxertia deve ser realizada
nos meses de junho a agosto, época quando se tem menos problemas com doenças na
formação da planta. Entretanto, o sistema de irrigação já deve estar instalado
e as plantas estarem sendo irrigadas a pelo menos três semanas antes do início
da enxertia. A brotação pode demorar de 20 a 75 dias, dependendo da temperatura
ambiente, variedade de porta-enxerto e se o material foi utilizado
imediatamente ou passou por conservação em areia ou câmaras frigoríficas. A
brotação no IAC 766 pode demorar até 75 dias nos meses de maio, junho e julho
(Figura 14) . A brotação muito rápida não é desejável, pois pode ocorrer antes
da formação do calo entre os tecidos do porta-enxerto e do enxerto, levando à
morte precoce do broto. Em enxertos maduros, logo após a cicatrização, é
necessário afrouxar a fita para que não haja estrangulamento do caule, através
de um corte no ponto onde se prendeu a ponta da fita.
Fig. 13.
Enxertia madura. (Foto: J. Dimas G.M.)
Fig. 14.
Brotação de enxerto maduro sobre o IAC 766 aos 75 dias. (Foto: J. Dimas G.M.)
Enxertia
verde
Para
realizar a enxertia herbácea ou verde os garfos e os ramos do porta-enxerto
devem estar verdes, firmes, não muito jovens, tão pouco em início de maturação,
com espessura de 0,7 cm a 1,0 cm. Os garfos devem ser colhidos de ramos com 40
a 60 dias após a poda na porção intermediária, entre a quarta e a décima
segunda gema, podendo ser utilizados imediatamente ou conservados em geladeiras
por cerca de uma semana dentro de sacos de plástico bem fechados e úmidos. A
enxertia verde pode ser feita em qualquer época do ano. É conveniente, porém
que seja o mais cedo possível, ou seja, assim que for constatado o fracasso da
enxertia lenhosa, ainda no período seco. Neste caso são deixados três brotos no
tronco do porta-enxerto, os quais são tutorados para a realização de dois
enxertos. A enxertia verde no período de chuvas exige um programa rigoroso de
controle de doenças, principalmente de míldio, havendo necessidade da aplicação
de fungicidas sistêmicos para garantir a sanidade das plantas em formação. O
pegamento do enxerto verde, utilizando-se filme de PVC para cobrir o garfo,
pode alcançar índices acima de 95%. Neste caso cobre-se totalmente o garfo,
exceto a gema (Figura15). Em regiões onde as temperaturas máximas diárias
excedem a 35°C é necessário cobrir os enxertos com saquinhos de papel contra a
radiação solar por 5 a 7 dias. O início da brotação ocorre cerca de 8 a 10 dias
após a enxertia (Figura16). Após a cicatrização do enxerto verde há necessidade
de cortar a extremidade do garfo acima do broto, pois nesta posição o filme de
PVC não se desprende por si só após a cicatrização (Figura17).
Fig. 15.
Enxertia verde, com filme de PVC, uma gema. (Foto: J. Dimas G.M.)
Fig. 16.
Brotação do enxerto verde (8 a 10 dias após a enxertia). (Foto: J. Dimas G.M.)
Fig. 17.
Enxerto verde realizado com filme de PVC, após cicatrização. (Foto: J. Dimas
G.M.)
Formação das
plantas Esta é uma etapa muito importante porque é nesta fase que se forma a
estrutura da planta. Após a brotação dos enxertos, seleciona-se o melhor, o
qual é conduzido até atingir o aramado da latada. Quando o enxerto ultrapassar
cerca de 30 cm acima do aramado ele é despontado na altura do aramado para
iniciar a formação dos braços. Antes do broto atingir o aramado, todos os
brotos laterais ou netos que surgem do principal são retirados, exceto os dois
últimos imediatamente abaixo do aramado, os quais são deixados para a formação
dos braços. Estes dois brotos deixados serão grampeados em sentidos opostos,
podendo ser no mesmo alinhamento da rua (sistema A) ou perpendicular a mesma
(sistema B). O comprimento dos braços terá a metade do espaçamento entre
plantas se conduzidos no sistema A (Figura 18) ou a metade do espaçamento entre
ruas se no sistema B (Figura9). O desponte dos brotos (futuros braços), deve
ser realizado quando ultrapassar cerca de 30 cm da metade dos espaçamento. O
sistema de formação (A) apresenta as seguintes vantagens em relação a formação
(B): menor gasto de mão-de-obra para realizar a poda madura, a massagem das
varas, a aplicação de dormex, a desbrota, a grampeação, e para a poda verde
(desbrota, desponte, desfolha, etc.), além de possibilitar a aplicação de
produtos mais dirigidos aos cachos e proporcionar melhor distribuição espacial
das varas sobre o aramado, o que melhora o aproveitamento da radiação solar e
exposição das folhas e cachos aos produtos pulverizados. No sistema B , é
possível obter ao redor de 45.0 varas/ha já no primeiro ano, porém demanda mais
mão-de-obra que o sistema A. No sistema A é possível obter cerca de 25.0 a 30.0
varas por hectare no primeiro ano, porém nos ciclos seguintes de formação (poda
curta), o número deve ser aumentado para cerca de 50.0 varas por hectare,
deixando-se em cada lado na extensão dos braços: uma, duas, uma, duas, varas,
de forma alternada, ou seja: 1,2,1,2,1,2, e assim por diante.
Fig. 18.
Sistema de formação A. (Foto: J. Dimas G.M.)
Fig. 19.
Sistema de formação B. (Foto: J. Dimas G.M.)
Poda e
Quebra de Dormência
Em regiões
tropicais, onde as temperaturas mínimas raramente baixam para valores
inferiores a 10°C, é necessário realizar duas podas anuais objetivando
controlar os ciclos vegetativos da videira, uma vez que a planta não hiberna.
As podas da videira podem ser madura (longa, curta ou mista), ou verde, que
consiste de todas as operações de retirada de partes verdes da planta (melhor
descrição no item poda verde).
Poda madura
A poda
madura é realizada quando os ramos estão lignificados, com idade de 5,5 a 7
meses após a última poda. Há três possibilidades de podas na cv. Niágara Rosada
quanto ao comprimento: curta ou de formação, com 2 a 3 gemas (Figura 1), longa
ou de produção, com 6 a 8 gemas (Figura 2) e mista (Figura 3), quando é
realizado no mesmo ciclo, a poda curta e a longa para produção e formação dos
ramos na mesma planta, no mesmo ciclo. Do ponto de vista da produção e da
formação de ramos na mesma planta, o melhor sistema é o que combina uma poda
curta de formação, alternada com uma poda longa de produção, devendo esta
última ser programada para a produção na entressafra. Este sistema permite a
obtenção de 30 t/ha/ano, deixando-se ou não, uma safrinha no ciclo de formação
(poda curta). Os sistemas de produção com ciclos sucessivos de poda curta ou de
poda mista não é adequado, pois a produtividade destes sistemas é menor na
entressafra do que o sistema de poda longa e poda curta, alternado.
Fig. 1. Poda
curta com duas a três gemas para formação de ramos. (Foto: J. Dimas G.M.)
Fig. 2. Poda
longa com sete a oito para produção - 7 a 8 gemas. (Foto: J. Dimas G.M.)
Fig. 3. Poda
mista (curta e longa). (Foto: J. Dimas G.M.)
Época de
poda
Considerando
a variação de preços e oferta de uva Niágara Rosada ao longo do ano, e a
possibilidade de entradas de massas de ar frio em determinados períodos do ano
em algumas regiões, há duas situações distintas quanto à época de podas: em
regiões onde não há limitações pelo frio, ou seja, onde as temperaturas mínimas
não caem abaixo de 15ºC, a poda longa deve ser realizada no período de 01de
março a 20 de julho, sendo o período ideal de 01 de abril a 15 de julho, neste
caso, a poda curta é programada para o período de 15 de agosto a 31 de
dezembro; já em regiões onde há limitações pelo frio, ou seja, onde as
temperaturas mínimas caem para valores inferiores a 15°C, a poda longa deve ser
programada para o período de 01 de março a 20 de abril ou de 01 a 20 de julho.
Neste caso a poda curta seria programada para o período de 15 de agosto a 20 de
setembro para o primeiro intervalo e de 15 de dezembro a 15 de janeiro para o
segundo intervalo, respectivamente, Estas são as épocas mais adequadas às
podas, para ambas situações, objetivando-se diminuir os riscos de má brotação e
obter melhores preços na entresafra nos grandes mercados atacadistas, como
CEAGESP, e mercados dos estados da região Sul do Brasil. Se a produção for
pequena e destinada a mercados regionais, as épocas de podas podem ser
ajustadas de acordo com essa demanda. A cv. Niágara Rosada é sensível ao frio,
portanto é necessário ficar atento às previsões meteorológicas de médio prazo,
principalmente em relação ao fenômeno La Ninã, o que condiciona invernos mais
intensos.
Quebra de
dormência
A brotação
da cv. Niágara Rosada é prejudicada em regiões onde a entrada de massas de ar
frio provoca queda da temperatura para valores inferiores a 15°C. Em condições
normais de temperatura (TºC mínima >18°C), a aplicação de cianamida
hidrogenada a 3,64% por imersão das gemas após a massagem de varas tem
apresentado bons resultados (Figura 4). Esta dosagem, porém, não é suficiente
para superar os efeitos negativos do frio, onde a temperatura mínima atinge
valores inferiores a 15ºC, durante ou logo após a poda (Figura 5). Dosagens
maiores, de até 5,20% de cianamida hidrogenada, já foram usadas por produtores
na região noroeste paulista em uma ou duas aplicações seguidas, porém sem
sucesso. As baixas temperaturas têm sido prejudiciais, tanto na quebra de
dormência quanto no desenvolvimento dos brotos (Figura 6). Quando o frio
prejudica a brotação no ciclo de poda longa e, consequentemente poucas gemas
brotam nas extremidades das varas (Figura 7), uma solução é refazer a poda
assim que terminar o frio, eliminando-se a porção terminal das varas e repetir
a aplicação de cianamida hidrogenada nas últimas três gemas intactas. A quebra
de dormência de gemas de ramos com seis a sete meses de idade, em épocas ou
regiões que não ocorrem a queda da temperatura mínima para valores inferiores a
18 °C pode ser feita com dosagens de 2,10% de cianamida hidrogenada, sem
massagens das varas. A aplicação do produto pode ser feita através de um tubo
de plástico, pulverizador costal manual ou com pincel. A aplicação por imersão,
através de tubo plástico (Figura 8), apresenta as seguintes vantagens em
relação aos outros sistemas de aplicação: economia de produto, aplicação do
produto somente nas gemas onde se deseja a brotação e menor risco para o
aplicador. Para aplicar o produto por imersão, no ciclo de poda longa, um
operário vai soltando as varas do aramado após a poda, passandoas para baixo,
ao mesmo tempo em que é feita a massagem nas últimas 4 gemas, ou seja, uma leve
torção nos entrenós da vara onde se deseja a brotação. Na seqüência, outro
operário faz a imersão das últimas 4 gemas da vara na solução. Em seguida, as
varas são retornadas à posição original sobre o aramado onde serão grampeadas.
No ciclo da poda curta, a aplicação pode ser feita com pulverizador costal
manual ou com pincel adaptado, feito de espuma ou de sisal, (Figura 9). A
aplicação deve ser feita, no máximo, em 48 h após a poda, devendo o aplicador
tomar o cuidado de não ingerir bebida alcoólica durante 24 h antes ou depois da
aplicação. A aplicação não deve ser realizada em períodos inferiores a 2 h que
antecede as chuvas, pois diminui a eficácia da aplicação. Quando possível deve
ser evitado também as horas mais quentes do dia quando a evaporação é muito
rápida.
Para melhorar
a brotação da videira quando as podas são realizadas nos meses de abril, maio,
junho e julho na região sudeste, pode se usar o ethrel 240® (9 L/ha) ou ethrel
720® (3 L/ha) cerca de 15 a 25 dias antes da poda. A aplicação deve ser feita
com 1000 L de água/ha quando as plantas estiverem com mais de 50 % de folhas
para absorção do produto e ramos com 5,5 a 6 meses de idade. A aplicação do
produto promove o amarelecimento das folhas e queda das mesmas. A poda e a
aplicação do dormex é realizada quando ocorrer a queda de cerca de 80 a 90 % de
folhas, momento em que as gemas encontram-se inchadas, antes do ponto de
'algodão', pois neste estádio, o produto pode queimar as gemas. Em áreas onde
se usar o ethrel, o dormex® deve ser usado na dosagem de 6,0 %.
Fig. 4.
Brotação normal após a massagem, e aplicação de cianamida hidrogenada a 3,64%.
(Foto: J. Dimas G.M.)
Fig. 5.
Brotação deficitária devido a baixas temperaturas após a poda. (Foto: J. Dimas
G.M.)
Fig. 6.
Paralisação do crescimento do broto devido a baixas temperatura. (Foto: J.
Dimas G.M.)
Fig. 7.
Varas com brotação deficitária devido a frio, sujeitas a repoda. (Foto: J.
Dimas G.M.)
Fig. 8. Tubo
para aplicação de cianamida hidrogenada. (Foto: J. Dimas G.M.)
Fig. 9.
Haste de sizal para aplicação de dormex. (Foto: J. Dimas G.M.)
Poda verde A
poda em verde consiste de várias práticas indispensáveis para se obter bons
ramos produtivos e uvas de boa qualidade. Na cv. Niágara Rosada consta de:
desbrota (retirada de brotos fracos, mal posicionados ou em excesso), quando os
brotos estiverem com cerca de 15 cm a 20 cm de comprimento; desfolha (retirada
de folhas opostas aos cachos), em brotos com cachos quando as bagas estiverem
no estádio de 'ervilha'; desponte apical (retirada de cerca de 1 cm no ápice do
broto, estádio fenológico n° 15 de acordo com Eichom & Lorenz (Figura 10),
na véspera do florescimento; desponte terminal (retirada de cerca de 20 cm a 30
cm na ponta do ramo); retirada de gavinhas; desbaste de cachos (retirada de
cachos pequenos e ou em excesso ). A poda verde melhora a aeração e a insolação
nos ramos, e, também a eficácia dos tratamentos fitossanitários na formação da
planta e em todos os ciclos conforme é detalhado abaixo.
Fig. 10.
Poda verde- ciclo de produção, desponte apical. (Foto: J. Dimas G.M.)
Na formação
das plantas
Durante o
crescimento do broto do enxerto, faz-se a retirada de brotos laterais (netos),
exceto os dois últimos logo abaixo do aramado, os quais serão deixados para a
formação dos dois braços. Nestes dois brotos são deixados todos os brotos
laterais (netos) para a formação das primeiras varas de produção. Na condução
destes brotos, futuras varas de produção, é realizada: a retirada de brotos
laterais (netos ou feminelas, Figura 1), ainda jovens, de gavinhas, e é feito o
desponte terminal das varas quando estiverem com 1,60 m de comprimento (Figura
12). Se ocorrer a brotação da última gema, este broto originado deve ser
despontado com três a quatro folhas. Outra possibilidade para conter o
crescimento é deixar o último neto ao se realizar o desponte terminal, sendo
este despontado com cinco folhas (Figura 13).
Fig. 1. Poda
verde- retirada dos netos ou feminelas. (Foto: J. Dimas G.M.)
Fig. 12.
Poda verde - ciclo de formação, desponte terminal. (Foto: J. Dimas G.M.)
Fig. 13.
Ramos despontados duas vezes para conter o crescimento. (Foto: J. Dimas G.M.)
Nos ciclos
de produção (poda longa)
A poda verde
neste ciclo consta de: desbrota (deixar dois brotos por vara); retirada de
gavinhas; desfolha (retirada de duas a três folhas basais logo após o pegamento
dos frutos, principalmente as opostas aos cachos); desponte apical dos brotos
com cachos na véspera do florescimento e desnetamento após o florescimento,
desbaste de cachos (deixar dois cachos por ramo). O objetivo do desponte apical
de brotos é melhorar o pegamento de frutos para obter cachos mais compactos,
com maior peso e melhor padrão. Após o pegamento dos frutos, deve-se deixar
dois cachos por broto eliminando-se o menor. Após o pegamento dos frutos
deve-se deixar o último neto desenvolver para aumentar o número de folhas no
broto, sendo este despontado com 5 a 6 folhas, resultando em 13 a 16 folhas por
ramo (Figura 14).
Fig. 14.
Poda verde - dois despontes no broto com cacho. (Foto: J. Dimas G.M.)
No ciclo de
formação (poda curta)
Neste ciclo
faz-se a desbrota, desnetamento, retirada de folhas basais dos brotos com
cachos (desfolha), e desponte terminal, quando as varas estiverem com cerca de
1,50 m a 1,60 m. Durante a desbrota deixa-se 60.0 brotos por hectare,
objetivando-se, no final cerca de 50.0 a 5.0 varas por hectare. Neste sistema
preconiza-se retirar todos cachos neste ciclo vegetativo, objetivando-se
obtenção de varas com maior espessura para produção no ciclo de poda longa.
Caso o produtor decida por uma safrinha, deve deixar somente um cacho por
broto, porque se deixar todos os cachos, a espessura dos ramos após o último
cacho é reduzida ocasionando menor produção e tamanho de cachos no ciclo
seguinte.
Retirada de
brotos ladrões Consiste na retirada de brotos dos troncos no porta-enxerto, e é
realizada quando os brotos ainda estão jovens, quando são mais fáceis de
retirar. Os brotos ladrões (Figura 15), além de prejudicar a variedade copa da
videira, tornam as plantas sujeitas a fitotoxidez por herbicidas, como é o caso
da intoxicação por glifosato (Figura 16).
Fig. 15.
Ramos ladrões nos troncos. (Foto: J. Dimas G.M.)
Fig. 16.
Fitotoxidez causada por aplicação de glifosato nas folhas. (Foto: J. Dimas
G.M.)
Abaixamento
de cachos
O
abaixamento de cachos deve ser feito quando a uva estiver entre os estádios de
'chumbinho e de 'ervilha', quando, então, são liberados de arames, ramos, ou
pecíolos. Na figura 36, observa-se cachos presos à arames, não abaixados, o que
provoca perdas durante a colheita.
Fig. 17.
Cachos de 'Niágara Rosada' presos à arames. (Foto: J. Dimas G.M.)
Adubação da
Videira Niágara Rosada
Adubações
Sugere-se dois tipos principais de adubação: a de correção, efetuada antes do
plantio, e a de manutenção, realizada durante a vida produtiva da planta. A
primeira é feita para corrigir a fertilidade do solo para padrões
preestabelecidos, e a segunda é realizada para repor os elementos absorvidos
pela planta durante o ano.
Calagem Tem
como finalidade eliminar prováveis efeitos tóxicos dos elementos que podem ser
prejudiciais às plantas, tais como alumínio e manganês, e corrigir os teores de
cálcio e magnésio do solo. Para a videira, o pH do solo deve estar próximo de
6,0. Na maioria dos estados brasileiros onde a cv. "Niágara Rosada" é
plantada, utiliza-se a saturação de bases (T) como o índice indicador da
necessidade de calagem. Recomenda-se usar a saturação de bases de 80 % para
corrigir o solo. Deve-se dar preferência ao calcário dolomítico (com magnésio),
sendo que o mesmo deve ser aplicado em toda a área, pelo menos, 3 meses antes
do plantio.
Adubação de
correção Como o nome já diz, é feita para corrigir possíveis carências
nutricionais. Nela procura-se corrigir principalmente os teores do fósforo e do
potássio.
Os indicadores
da disponibilidade de K e P para a maioria dos solos do Brasil é o
Mehlich 1,
sendo também utilizado resina aniônica e catiônica (Estado de São Paulo). A
quantidade de nutriente a ser aplicada baseia-se em análise de solo e segue-se
a Tabela 1. Os fertilizantes devem ser aplicados 10 dias antes do plantio e
distribuídos em toda área.
As fontes
utilizadas para fósforo são os superfosfatos, enquanto que para o potássio
recomenda-se o uso do cloreto de potássio ou sulfato de potássio.
Tabela 1.
Adubação de correção. P Resina (mg dm-3) K trocável (mmol dm-3)
A adubação
com micronutrientes se faz necessária apenas com o boro (B), pois os outros
micronutrientes são fornecidos via fungicidas. O boro é um micronutriente
extremamente importante para a videira, especialmente para a cv. Niágara
Rosada, em que sua deficiência causa má fecundação, condicionando a formação de
cachos ralos e mal formados. Normalmente os teores de B (extraído com água
quente) do solo estão abaixo de 0,6 mg kg-1. Nesta situação, recomenda-se
aplicar 10 kg ha-1 de B. Os fertilizantes mais utilizados na correção de B e
suas respectivas dosagens estão na Tabela 2.
Tabela 2.
Fertilizantes boratados utilizados para correção da deficiência de boro.
Teor
Aproximado
Quantidade a
aplicar Material Fórmula química g kg-1 Kg ha-1
Época de
Aplicação
Modo de
Aplicação
Ácido
Bórico H3BO3
175 57 Preparo do solo Toda área
Bórax
Na2B4O7.10H2O 115 87 Preparo do solo Toda área
Colemanita
Ca2B6O11.5H2O 150 67 Preparo do solo Toda área
Ulexita
NaCaB5O9.8H2O 100 100 Preparo do solo Toda área
Boro
Solúvel
Na2B8O13. 4H2O 205 49 Preparo do solo Toda área
A aplicação
de boro, em formulações com adubos fosfatados e/ou potássicos, facilita a
aplicação e melhora sua distribuição no solo.
Quando por
algum motivo o produtor não fez a correção do solo com boro, recomenda-se duas
aplicações via foliar, sendo a primeira antes do florescimento e a segunda
quando as bagas apresentem tamanho de chumbinho, utilizando-se solução 0,05 %
de boro. As fontes de B mais recomendadas são ácido bórico, bórax e boro
solúvel.
Adubação de
formação das plantas Esta adubação tem a finalidade de fornecer nutrientes às
plantas no período que vai do plantio até o início da produção. Utiliza-se
fertilizantes químicos à base de adubos orgânicos e nitrogênio.
Em solos com
menos de 25 g kg-1 (2,5%) de matéria orgânica recomenda-se a aplicação de
esterco de bovinos, na dose 80 t ha-1, que deve ser colocado no fundo das covas
das plantas e bem misturado com o solo.
Após a
enxertia, durante a formação da planta, faz-se a adubação nitrogenada, sendo
que a quantidade de nitrogênio anual a ser aplicada está relacionada com o teor
de matéria orgânica do solo, seguindo-se a Tabela 3. Esta adubação deve ser
parcelada em até cinco vezes.
Tabela 3.
Adubação nitrogenada de formação da planta. Matéria Orgânica Dose de Nitrogênio
Adubação de
Manutenção Tem a finalidade de repor os nutrientes que são exportados na forma
de frutos. A recomendação é feita na expectativa da produtividade de 30 t ha-1.
As doses e épocas de aplicações estão na tabela 4. Complementando a adubação de
manutenção, deve-se aplicar, 10 dias antes da poda, 30 t ha-1 de esterco
bovino.
Tabela 4.
Doses de fertilizantes recomendadas para a videira "Niágara" para
atingir produtividade de 30 t ha-1.
Poda de
Formação
Poda de
Produção
Época
Nitrogênio Fósforo (P2O5) Potássio (K2O) Esterco Bovino --------------- kg ha-1
--------------- --- t ha-1 ---- 10 dias antes da poda - 96 - 30 10 dias após a
poda 72 - - - 30 dias após a poda 36 96 - - 45 dias após a poda 12 - 48 - 60
dias após a poda - - 48 - 80 dias após a poda - - 60 - Total 120 192 156 30
Manejo de
Plantas Daninhas Introdução
As plantas
daninhas não são, em sua totalidade, prejudiciais a videira. Há espécies menos
competitivas que podem ser admitidas nas áreas, podendo ajudar na reciclagem de
nutrientes, promovendo a cobertura do solo, diminuindo a erosão, além de servir
como abrigo de inimigos naturais. Algumas espécies são extremamente
competitivas e disseminam muito rápido como é o caso da grama seda (Cynodon
dactylon L.) Pers., tiririca (Cyperus rotundus L.), capim colonião (Panicum
maximum Jacq.), braquiarias (Braquiaria spp.), corda de viola (Ipomoeia sp), as
quais necessitam ser erradicadas da área. Outras espécies menos competitivas
podem até conviver com a cultura nas entrelinhas, no período chuvoso, porém
necessitam ser roçadas a cada 20 a 30 dias. O controle de plantas daninhas é
realizado objetivando-se diminuir a competição com a videira por água, luz, e
nutrientes ou visando a eliminação das espécies mais competitivas.
Controle
cultural
Consiste em
evitar a introdução de espécies competitivas na área do vinhedo. Essa
introdução pode ocorrer via plantio de mudas infestadas; estercos com sementes,
estolhos ou tubérculos; ou através de implementos usados em áreas infestadas.
Neste último caso o implemento deve ser lavado antes de iniciar o trabalho na
nova área. A eliminação de plantas daninhas nas margens de carreadores e em
áreas ociosas adjacentes ajudam a diminuir as fontes de infestação.
Controle
físico
Usar
cobertura morta, como restos de palhas secas de cana ou de napier, casquinha de
algodão, bagaço de cana, e palhas de braquiária. Estes materiais, além de
diminuir a incidência de plantas daninhas, proporcionam aumento no teor de
matéria orgânica no solo, aumentam a conservação da umidade no solo, e diminui
os riscos de erosão. Outra possibilidade para a cobertura do solo é o plantio
de leguminosas nas entrelinhas, fazendo a cobertura verde. Neste caso a
leguminosa deve ser roçada antes que suas sementes estejam maduras
fisiologicamente. A espécie para este fim deve ter hábito de crescimento
determinado, e ter ciclo anual. A mucuna anã pode ser usada para este fim. Esta
espécie chega a incorporar cerca de 50 kg/ha/ano de nitrogênio, 4 a 5 t/ha de
matéria seca, além de ter efeitos alelopáticos contra nematóide e tiririca.
Controle
quimico
O uso de
herbicidas deve ser feito preferencialmente no final do ciclo. Deve-se evitar o
uso de herbicidas durante os dois primeiros anos de cultivo, porque os riscos
de fitotoxidez são maiores. O controle químico pode ser feito com produtos
registrados para a cultura listados na Tabela 1, sendo os mais utilizados
glifosato e paraquat. Glifosato - É um herbicida pós-emergente, sistêmico que
controla folhas largas e estreitas. A dosagem recomendada é em função das
espécies mais tolerantes presentes na área, podendo variar de 0,48 a 2,8 kg de
i.a /ha-1. A aplicação nas linhas requer a retirada antecipada dos brotos
ladrões no tronco cerca de 5 dias antes da aplicação, para evitar fitotoxidez.
Paraquat - É um herbicida pós-emergente, não seletivo que controla a maioria
das plantas daninhas anuais, principalmente com altura entre 15 cm a 20 cm, na
dosagem de 2,0 kg de i.a./ha-1. Este produto requer cuidado especial quanto a
deriva, para tanto deve ser aplicado nas horas sem vento.
Herbicidas
não registrados para a videira
A aplicação
de produtos não registrados para a videira pode causar sérios danos à planta
como a base de halosulfuron (Figura 2), e de 2,4, D (Figura 3). Os herbicidas
registrados para a cultura da videira estão apresentados na Tabela 1.
Fig. 1.
Sintomas de fitotoxidez causado por halosulfuron. (Foto: J. Dimas G.M.)
Fig. 2.
Sintomas de fitotoxidez causada por 2,4-D. (Foto: J. Dimas G. M.)
Em termos
gerais, o controle, e, ou, manejo de plantas daninhas no vinhedo pode ser feito
de várias maneiras: Uso de herbicidas nas linhas de plantio, e de roçadeiras
nas entrelinhas (Figura 39);
Capinas
manuais nas linhas e roçadeiras nas entrelinhas (Figura 40);
Capina
manuais nas linhas e cobertura morta nas entrelinhas ;
Área
totalmente limpa (em solos de textura arenosa, bastante sujeitos a erosão, não
deve ser adotado).
Fig. 3.
Herbicida nas linhas e roçadeira nas entrelinhas. (Foto: J. Dimas G.M.)
Fig. 4. Capinas
nas linhas e roçadeiras nas entrelinhas. (Foto: J. Dimas G. M.)
Tabela 1.
Herbicidas registrados para a cultura da videira (2003). Nome Ingrediente Ativo
Classe Class. Registrante
Comercial
Toxicológica Amb Agrisato 480 CS Glifosato IV I Alkagro do Brasil Ltda
Cention SC
Diurom I * Bayer CropScience Ltda.
Direct
Glifosato IV I Monsanto do Brasil Ltda.
Diurex
Agricur
500SC Diurom
I * Agricur Defensivos Agrícolas Ltda.
Diuromex
Diurom I * Sipcam Agro S.A. Diuron Nortox Diurom I I Nortox S.A.
Finale Glufosinato-sal
de amônio I I Bayer CropScience Ltda.
Glifosato
Nortox Glifosato IV I Nortox S.A.
Glifosato
480
Agripec
Glifosato IV I Agripec Química e Farmacêutica S.A.
Gliz Br
Glifosato IV I Dow AgroSciences Industrial Ltda.
Gliz 480 CS
Glifosato IV I Dow AgroSciences Industrial Ltda.
Gramocil
Diurin + dicloreto de paraquate I I Syngenta proteção de Cultivos Ltda.
Gramoxone
200 Dicloreto de paraquate I I Syngenta proteção de Cultivos Ltda.
Herbazin 500
BR Simazina
I * Milenia Agro Ciências S.A.
Herbipak 500
BR Ametrina
I * Milenia Agro Ciências S.A.
Herburon
Diurom I * Milenia Agro Ciências S.A
Polaris
Glifosato IV I Du Pont do Brasil S.A.
Radar
Glifosato IV I Monsanto do Brasil Ltda.
Roundup
Original
Glifosato IV I Monsanto do Brasil Ltda.
Roundup WG
Glifosato IV I Monsanto do Brasil Ltda.
Rustler
Glifosato IV I Monsanto do Brasil Ltda.
Stinger
Glifosato IV I Monsanto do Brasil Ltda.
Surflan 750
BR Orizalina I * Dow AgroSciences Industrial Ltda.
Touchdown
Sulfosato IV I Syngenta Proteção de Cultivos Ltda.
Doenças e
seu Controle
Introdução
A cv.
Niágara Rosada, quando cultivada em condições climáticas favoráveis ao
desenvolvimento de patógenos durante o período vegetativo, está sujeita a uma
série de doenças, que podem ocorrer em todas as partes da planta, como raízes,
troncos, ramos, folhas, brotos e cachos. Algumas dessas doenças, de natureza
fúngica ou virótica, provocam grandes perdas e, frequentemente, tornam-se
fatores limitantes ao cultivo, se medidas de controle adequadas não forem adotadas.
Dentre as doenças fúngicas que ocorrem na cv. Niágara Rosada em regiões
tropicais, destacam-se o míldio ou mofo (Plasmopara viticola), a requeima
foliar (Alternaria sp.), a ferrugem (Phakopsora euvitis). Outras doenças como:
antracnose ou varola (Elsinoe ampelina), podridões dos cachos e manchas das
folhas podem causar perdas em regiões de clima tropical mais úmido. Além das
doenças fúngicas, as viroses também podem causar sérios prejuízos aos
viticultores.
Doenças
Fúngicas
Míldio -
Plasmopara viticola É a principal doença fúngica da cv. Niágara Rosada em áreas
tropicais, podendo infectar todas as partes verdes da planta, sendo que os
danos são maiores quando ataca os frutos.
Sintomatologia:
Nas folhas, inicialmente aparecem manchas amarelas, translúcidas contra o sol,
denominadas de "mancha de óleo" (Figura 1a). Nessas manchas, em
condições de umidade relativa alta (acima de 98%), aparece um mofo branco na
parte inferior das folhas (Figura 1b) e, em seguida, a área afetada fica
necrosada. Nas inflorescências, observa-se escurecimento do ráquis, onde pode
ocorrer esporulação do fungo. As inflorescências infectadas secam e caem. Nos
cachos, após o pegamento, as bagas jovens ficam amareladas, onde também pode
ocorrer esporulação (Figura 1c). Quando o fungo infecta as bagas mais
desenvolvidas, ele penetra pelos pedicelos e se desenvolve no seu interior,
tornando-as escuras, duras, com superfícies deprimidas e sem esporulação, o que
provoca a sua queda. Esse sintoma é denominado de "míldio larvado"
(Figura 1 d) e é comum quando a produção coincide com o período de chuvas. Sem
um bom esquema de tratamento nesta fase, o míldio pode causar perdas de até
100%, com degrana e queda de bagas (Figura 1e).
Fig. 1a.
Sintoma de míldio na face superior da folhas - 'mancha óleo'. (Foto: J. Dimas
G.M.)
Fig. 1b.
Sintoma de míldio na face inferior da folha - esporulação do fungo. (Foto: J.
Dimas G.M.)
Fig. 1c.
Sintoma de míldio em cacho com bagas no estádio 'chumbinho'. (Foto: J. Dimas
G.M.)
Fig. 1d.
Sintomas de míldio no cacho - 'míldio larvado'. (Foto: O.R.Sônego)
Fig. 1e.
Queda de bagas devido ao míldio 'larvado'. (Foto: O.R.Sônego)
Condições
predisponentes: A temperatura ideal para o desenvolvimento do míldio é de 18°C
a 25°C. O fungo necessita de água livre nos tecidos por um período mínimo de 2
horas para infectar. A presença de água livre, seja proveniente das chuvas, de
orvalhos (Figura 2) ou de gutação, é indispensável para haver a infecção, sendo
que para haver a esporulação do fungo e a umidade relativa do ar deve estar
acima de 98% . A penetração de Plasmopara viticola se dá pelos estômatos
presentes na face inferior das folhas, e nos pedicelos, quando a baga é ainda
jovem.
Fig. 2. Água
livre na folha, condição para infeção de míldio. (Foto: J. Dimas G.M.)
Controle: O
controle preventivo do míldio deve ser iniciado com a escolha do local adequado
para instalação do parreiral, evitando-se áreas de baixada ou com face sul.
Medidas que
melhorem a aeração da copa, como espaçamento adequado, boa disposição espacial dos
ramos sobre o aramado e poda verde (desbrota, desnetamento, desfolha, desponte,
etc.), devem ser adotadas, objetivando diminuir o tempo de molhamento foliar.
No controle químico, devem ser utilizados fungicidas registrados para a cultura
(Tabela 2). Esses produtos podem ter ação protetora ou de contato, ação de
profundidade ou ação sistêmica. Os produtos de contato só protegem a superfície
atingida pela aplicação e não têm ação sobre o fungo no interior dos tecidos.
Os produtos com ação de profundidade podem atuar matando o fungo no interior
das folhas até 2 dias após a infecção, protegendo, porém, apenas as partes nas
quais foram aplicados. Já os produtos sistêmicos, devido à sua capacidade de
translocação, podem atuar em partes da planta que não foram atingidas na
aplicação.
Os
fungicidas protetores do grupo dos ditiocarbamatos como ziram, zineb e
mancozeb, são efetivos no controle de míldio. Entretanto, têm pouca
persistência na planta e são facilmente destruídos por altas temperaturas,
radiação solar e chuvas, condição presente em regiões de clima tropical úmido.
Esses produtos podem ser misturados aos cúpricos, não apresentam fitotoxicidade
às plantas e requerem aplicações a cada 3 a 4 dias no período chuvoso. Caso
ocorram chuvas fortes, porém, há necessidade de repetir a pulverização. Os
fungicidas que têm ação de profundidade são mais eficazes quando aplicados
preventivamente.
Embora sejam
mais eficazes que os fungicidas de contato, os fungicidas sistêmicos, por serem
mais específicos, não devem ser utilizados em mais de duas ou três aplicações
por ciclo vegetativo, diminuindo os riscos do aparecimento de raças resistentes
do fungo. Deve ser adotado, portanto, um programa de tratamentos com
alternância de produtos com diferentes modos de ação, aplicando-se fungicidas
sistêmicos nos estádios de maior sensibilidade da videira, ou seja, nos
períodos de pré-floração e frutificação. No ciclo de formação de plantas, caso
não seja deixada produção na entressafra ("safrinha"), devem ser
utilizados apenas produtos com ação de contato.
Os
fungicidas a base de cobre não devem ser usados durante o florescimento e
pegamento dos frutos, pois podem causar fitotoxicidade. Sua utilização é
recomendada entre os estádios de 'chumbinho' até o amolecimento das bagas, e
logo após a colheita. Entre os estádios de ervilha até a compactação dos cachos
o cobre a ser usado deve ser na formulação de hidróxido de cobre na formulação
GrDA, objetivando-se não manchar a uva.
No período
chuvoso, quando as condições são mais favoráveis ao desenvolvimento do míldio,
pode-se adotar a seguinte estratégia de tratamentos durante o ciclo:
Do estádio
de duas a três folhas separadas até 3 dias antes da florescimento aplicar
produtos de contato, exceto à base de cobre, a cada 4 dias;
Um a dois
dias antes de o florescimento aplicar metalaxyl ou fenamidone, repetindo-se aos
sete dias após a primeira aplicação. Após a segunda aplicação de fungicidas
sistêmicos, aplicar oxicloreto de cobre intercalado com outros produtos de
contato a cada quatro dias, até o estádio de 'ervilha';
Entre os
estádios 'ervilha' até a compactação dos cachos aplicar hidróxido de cobre
GrDA
intercalado com outros produtos de contato a base de mancozeb formulação SC, os
quais não mancham a uva.
Após a
colheita, aplicar calda bordalesa a 1% alternada com mancozeb a cada 10 dias,
objetivando-se manter a folhagem sadia para recompor asRESERVAS das plantas.
No período
seco, o mais indicado é o acompanhamento das condições meteorológicas para
verificar se há ou não a necessidade de algum tratamento em função da presença
de água livre nas folhas, fator condicionante da infecção.
Em termos
gerais, para definir um calendário de tratamentos para míldio deve-se levar em
consideração alguns aspectos básicos: míldio só infecta os tecidos verdes se
tiver água livre.
Os produtos
de contato só atuam preventivamente e só protegem as superfícies aplicadas, não
combatendo o fungo no interior dos tecidos.
Os produtos
que têm ação de profundidade só têm efeito na área aplicada por um período de 5
a 7 dias. Sua eficácia será tanto maior quanto mais próximo de 100% de área
foliar for coberto pêlos produtos. Esses produtos matam o fungo dentro das
folhas se aplicado até dois dias após a infecção.
Os produtos
sistêmicos, que se translocam na planta, protegem por cerca de 7 dias em áreas
tropicais, e seu uso deve ser restringido a duas aplicações no ciclo de
produção. Esses produtos matam o fungo no interior da folha quando aplicado até
três dias após a infecção.
A cv.
Niágara Rosada exige maior cuidado no período de frutificação, uma vez que a
infecção no cacho causa grandes perdas;
Entre os
produtos registrados, após o estádio de 'ervilha' dar preferência para aqueles
que não mancham a uva.
Requeima das
folhas - Alternaria sp. A requeima foliar da videira, problema recentemente
constatado em condições tropicais, tem causado grandes preocupações para os
produtores de uvas de mesa da região de Jales, SP. Observações iniciais
ocorreram no ano de 1998 em uvas americanas (Vitis labrusca L.) e híbridas no
início da maturação dos frutos e, no ano seguinte, o problema passou a ser
observado também nas cultivares de uvas finas (Vitis vinifera L.) durante o
ciclo de formação. A doença tem sido muito agressiva, uma vez que provoca a
queda prematura de folhas e prejudica a maturação dos frutos, acarretando em
baixos teores de açúcares, elevada acidez e fraca coloração, tornando os cachos
inadequados para a comercialização. Além disso, compromete a formação e
maturação dos ramos no ciclo seguinte, devido ao menor acúmulo deRESERVAS de carboidratos.
Sintomatologia:
Os sintomas começam a ser percebidos como manchas bem definidas, de contorno
irregular e coloração arroxeada na face superior das folhas (Figura 3a). Nesta
fase também pode ser facilmente observada necrose interna de tecidos expondo a
face de baixo da folha contra a luz do sol. As manchas, em seguida, tornam-se
necróticas e de coloração cinza-escura, evoluindo para os bordos, aumentando
rapidamente e podendo coalescer e cobrir quase todo o limbo foliar (Figura 3b).
Em seguida ocorre a morte e queda das folhas, permanecendo temporariamente os
pecíolos presos nos ramos. A doença tem ocorrido com maior freqüência no início
do amolecimento das bagas, causando desfolha precoce e prejudicando a maturação
da uva (Figura 3c).
Fig. 3a.
Sintomas de requeima das folhas. (Foto: J. Dimas G.M.)
Fig. 3b.
Sintomas avançados de requeima das folhas. (Foto: J. Dimas G.M.)
Fig. 3c.
Maturação prejudicada devido a desfolha precoce causada pela requeima. (Foto:
J. Dimas G.M.)
Controle:
Embora a doença venha sendo objeto de observação por pesquisadores da
Embrapa Uva
e Vinho e da Universidade Camilo Castelo Branco (UNICASTELO), até o presente
momento não há resultados de pesquisa que permitam a recomendação de medidas
adequadas para o seu controle. No entanto, em observações de campo verifica-se
um bom controle da doença na cv. Niágara Rosada quando as pulverizações são
iniciadas 30 dias após a poda e se estendem por até dez dias após o início do
amolecimento das bagas, utilizando-se fungicidas a base de tebuconazole
(quinzenal) e mancozeb SC (semanal), Maia1. Esses produtos têm proporcionado
bom controle de míldio e alternaria sem manchar a uva.
Ferrugem -
Phakopsora euvitis Causada pelo fungo Phakopsora euvitis, que tem grande
potencial de disseminação, a doença foi inicialmente detectada na Ásia e na
América do Norte, sendo constatada pela primeira vez no Brasil no ano de 2001
em municípios da região norte do Estado do Paraná. Atualmente, a ocorrência do
patógeno já se estendeu aos parreirais de outras regiões vitícolas do país.
Phakopsora
euvitis, ocorre principalmente, em áreas tropicais e subtropicais onde a
severidade da doença parece ser maior que nas regiões de clima temperado.
Registros preliminares têm mostrado que cultivares americanas e híbridas como
Niágara e Isabel são mais suscetíveis que variedades européias (V. vinifera).
Sintomatologia:
Os sintomas da doença na videira são lesões amareladas a castanhas de várias
formas e tamanhos nas folhas, podendo aparecer manchas cloróticas em áreas
correspondentes na face superior (Figura 4a). Massas amarelo-alaranjadas de
uredosporos são produzidas na face inferior das folhas (Figura 4b), com manchas
escuras necróticas na face superior. Ataques severos do fungo causam senescência
e queda prematura de folhas, prejudicando os frutos e reduzindo o vigor das
plantas no ciclo seguinte.
Fig. 4a.
Sintomas de ferrugem na face superior das folhas. (Foto: J. Dimas G.M.)
Fig. 4b.
Frutificação da ferrugem na face inferior das folhas. (Foto: J. Dimas G.M.)
Controle: O
controle químico da ferrugem durante o ciclo produtivo é necessário em poucas
áreas, uma vez que, apesar de ser elevado o número de pústulas nas folhas, a
velocidade de desfolha é relativamente lenta. Após a colheita, no entanto, essa
velocidade aumenta sensivelmente, chegando a desfolhar a cultura durante a fase
de repouso. Dessa forma, o controle deve ser iniciado próximo à colheita e na
fase inicial do repouso para evitar a desfolha precoce. Em ensaios de avaliação
da eficiência de fungicidas no controle da ferrugem da videira, obtiveram-se
bons resultados quando foram realizadas pulverizações com produtos do grupo dos
triazóis (tebuconazole, metconazole e cyproconazole) e um produto do grupo das
estrobirulinas (azoxystrobin), já registrados para cultura da videira (Tabela
1).
Antracnose -
Elsinoe ampelina Sintomatologia: O fungo ataca todos os órgãos verdes da planta
(folhas, gavinhas, ramos, inflorescências e frutos). Nos ramos, a doença causa
o aparecimento de cancros com formatos arredondados de coloração cinzenta no
centro e bordas de coloração preta (Figura 5). Nas folhas com a evolução da
doença as manchas ficam perfuradas no centro. Nas bagas também aparecem manchas
circulares de cor cinza no centro e preta nas bordas. Na região noroeste
paulista a doença não tem ocorrido, porém poderá assumir maior importância em
regiões com maior intensidade pluviométrica.
Fig. 5.
Formação de cancros nos ramos. (Foto: J. Dimas G.M.)
Condições
predisponentes: O desenvolvimento do fungo é favorecido pela alta umidade
provocada por precipitação, nevoeiro e orvalho. Temperaturas de 2ºC a 32ºC
permitem que o patógeno se desenvolva, sendo a temperatura ótima de 20ºC.
Controle: O
controle deve ser iniciado na época da poda com a queima de ramos doentes e com
tratamento químico, visando eliminar ou diminuir o inoculo inicial. A cv.
Niágara Rosada é menos sensível à antracnose do que as uvas finas. Na região
Noroeste Paulista a antracnose não tem ocorrido. Em outras regiões se ocorrer o
controle deve ser preventivo até os primeiros 60 dias após a poda. Os produtos
recomendados para o controle de antracnose e as épocas de aplicações estão
apresentados na Tabela 2.
Mancha das
folhas - Pseudocercospora vitis Também conhecida como isariopsis, a doença,
causada por Isariopsis clavispora=Pseudocercospora vitis, tem grande
importância em cultivares americanas, entre elas a Niágara, principalmente em
regiões mais quentes, onde a doença evolui rapidamente. A desfolha precoce é o
principal dano, acarretando o enfraquecimento da planta e deficiência na
maturação dos ramos e consequentemente má brotação no ciclo seguinte.
Sintomatologia:
Os sintomas se manifestam principalmente nas folhas, onde são bastante
característicos. No limbo foliar aparecem manchas bem definidas, de contorno
irregular e coloração inicialmente castanho-avermelhada, que mais tarde
escurece. As manchas podem atingir até 2 cm de diâmetro e apresentam um halo
amarelado ou verdeclaro bem visível (Figura 6); na face oposta da folha, no
tecido correspondente, ocorre uma coloração pardacenta. Não há perfurações nem
deformações da folha. As frutificações do fungo se desenvolvem tanto na face
superior como na inferior da folha. O ataque severo da doença provoca a queda
prematura das folhas, impossibilitando a planta recompor asRESERVAS de carboidratos para o ciclo seguinte.
Fig. 6.
Sintomas de manchas das folhas. (Foto: O.R.Sônego)
Condições
predisponentes: A doença se desenvolve em condições de alta temperatura e
umidade. As folhas basais normalmente são as mais afetadas. O aparecimento dos
sintomas ocorre, geralmente, no início da maturação da uva. A ausência ou um
número insuficiente de tratamentos para o controle do míldio pode favorecer o
desenvolvimento da doença.
Controle: As
medidas adotadas para o controle do míldio, exceto os produtos cúpricos,
geralmente são suficientes para manter a doença em níveis baixos. Os
tratamentos químicos pós-colheita dão uma melhor proteção à folhagem,
mantendo-a por mais tempo na planta.
Podridões do
cacho - Melanconium fuligineum e Glomerella cingulata As principais podridões
do cacho da Niágara são a podridão amarga causada pelo fungo Melanconium
fuligineum e a podridão da uva madura, causada por Glomerella cingulata.
Provocam perdas tanto na qualidade como na quantidade da uva produzida.
Sintomatologia:
Podridão amarga - As infeções iniciam-se após a floração e permanecem latentes
até a maturação da uva, quando os sintomas são mais evidentes. Inicialmente se
observa uma lesão aquosa, marrom que aumenta em forma de anéis concêntricos até
envolver toda a baga. Em condições favoráveis, aparecem pústulas escuras,
irregulares e de tamanho variável, que são as estruturas do fungo. Quando os
frutos úmidos são manipulados, liberam esporos em forma de resíduos escuros. Os
frutos atacados podem enrugar e mumificar.
Podridão da
uva madura: As infeções iniciam-se após a floração e permanecem latentes até a
maturação da uva. Os sintomas mais evidentes são observados nos cachos na fase
de maturação ou em uvas colhidas. Sobre as bagas atacadas surgem manchas
circulares, marrom-avermelhadas, que, posteriormente, atingem todo o fruto,
escurecendoo. Em condições favoráveis (alta umidade), aparecem as estruturas reprodutivas
do fungo (acérvulos) na forma de pontuações cinza-escuras, concêntricas, das
quais exsuda uma massa rósea ou salmão, que são os conídios do fungo. Esta
massa rósea serve para diferenciar da podridão amarga. Estas doenças podem
ocorrer simultaneamente no mesmo cacho, provocando a murcha do cacho e a
mumificação de parte ou de todas as bagas.
Condições
predisponentes: O desenvolvimento e a esporulação dos fungos são favorecidos
por alta umidade e temperaturas em torno de 25 a 30°C . O vento, a chuva e os
insetos auxiliam na disseminação dos esporos dos fungos. Ferimentos nos frutos
favorecem o estabelecimento dos patógenos. Adubação com nitrogênio em excesso
proporcionam alto vigor à planta, o que favorece a infeção e o desenvolvimento
da doença no fruto. Na podridão da uva madura as infeções podem ocorrer em
todos os estádios de desenvolvimento do fruto. No final da floração ou em bagas
jovens, o fungo penetra na cutícula e permanece latente até o inicio da
maturação da uva, quando então os sintomas tornam-se visíveis. O fungo
sobrevive em frutos mumificados e pedicelos e na primavera, com elevada
umidade, produz abundante frutificação, que é a fonte primária de inóculo.
Controle: As
podridões podem ser melhor controladas por um programa integrado de manejo,
onde são observadas as seguintes práticas: adotar espaçamentos que proporcionem
uma boa aeração e insolação; evitar excesso de nitrogênio; colher todos os
cachos, evitando assim que eles mumifiquem no pé; controlar doenças como o
míldio; controlar as pragas da parte aérea; proporcionar boa distribuição
superficial dos ramos sobre o aramado, realizar o abaixamento de cachos,
deixando-os livres; realizar poda verde (desbrota, desfolha, desnetamento e
esladroamento); tratar com fungicidas específicos; no caso do uso de fungicidas
sistêmicos, alterná-los com fungicidas protetores; iniciar os tratamentos bem
antes da compactação do cacho, geralmente no final da floração com os produtos
da Tabela 2.
Ocorrência
das doenças fúngicas em regiões de clima tropical úmido Na região noroeste do
Estado de São Paulo o controle tem sido necessário apenas para míldio, requeima
e ferrugem. O controle não é difícil e alguns produtos controlam
simultaneamente ferrugem e requeima das folhas, assim como míldio e requeima, permitindo
reduzir o número de aplicações durante o ano. Em outras regiões de clima
tropical mais úmido, como na região norte do Brasil, as outras doenças como;
antracnose, mancha das folhas e as podridões de cachos poderão assumir
importância econômica e necessitar de controle a partir de observações locais
de severidade. Na figura 7 observa-se os estádios fenológicos mais suscetíveis
para cada uma das doenças citadas.
Viroses
As doenças
causadas por vírus nem sempre despertam a preocupação dos viticultores, talvez
por desconhecimento da sintomatologia ou mesmo por seus efeitos mais graves
aparecerem a médio prazo, embora alguns vírus possam causar a morte de mudas
com idade entre um a três anos. A videira por ser propagada vegetativamente por
estacas (pé-franco) ou pela enxertia (muda enxertada), facilita a disseminação
das viroses. A produção da muda pelo viticultor, utilizando material vegetativo
do seu próprio vinhedo ou de vizinhos, sem o conhecimento do estado sanitário
(presença ou não de vírus), tem favorecido a disseminação dessas doenças e, com
muita freqüência, o acúmulo de mais de um tipo de virose na mesma planta.
A uva
Niágara pode ser afetada por inúmeros vírus, embora a maioria de forma latente,
ou seja, a planta afetada não mostra os sintomas característicos da doença e,
quando mostra, estes sintomas aparecem somente em determinadas fases do ciclo
da planta, dificultando a sua observação. Entretanto, algumas viroses podem
causar prejuízos consideráveis a esta variedade, entre as quais, a doença "Enrolamento
da Folha" e a doença do "Complexo Rugoso da Videira".
"Enrolamento
da Folha da Videira" (Grapevine leafroll-associated virus, GLRaV) É uma
doença complexa, onde podem estar associados até nove vírus diferentes.
Destes, os
dois de maior importância econômica GLRaV-1 e três já foram identificados no
Brasil, além do GLRaV-2. Os sintomas dessa doença, em plantas de Niágara, não
são muito pronunciados, mas podem ocorrer queimaduras entre as nervuras
principais e leve enrolamento das folhas, bem como redução no desenvolvimento
da planta. É importante salientar que as cultivares de porta-enxerto, em geral,
não mostram sintomas dessa virose, impossibilitando distinguir uma planta
doente de uma sadia, o que facilita a utilização de material contaminado.
"Complexo
rugoso da Videira" Nesta doença estão associadas quatro viroses que afetam
o lenho das plantas, especialmente o tronco, sendo: Acanaladura do lenho de
Kober (Grapevine virus A, GVA); Caneluras do tronco de Rupestris (Rupestris
stem pitting-associated virus, RSPaV); Acanaladura do lenho de LN33 e
Intumescimento dos ramos (Grapevine virus B, GVB). Estas viroses, com exceção
da última, são conhecidas na prática por caneluras do tronco ou lenho rugoso
por causarem sintomas muito semelhantes nos troncos das plantas.
Virose do
intumescimento dos ramos
Plantas de
Niágara afetadas por esta virose mostram engrossamento em um ou mais entrenós
do ramo do ano (Figura 8), com fendilhamento longitudinal da região afetada.
Eventualmente estes sintomas podem ser observados, também, no pecíolo das
folhas próximas à região afetada do ramo. As plantas doentes definham
gradativamente com eventual morte de ramos e a brotação é fraca e atrasada.
Fig. 8.
Sintomas de intumescimento de ramos. (Foto: G.B.Kuhn)
Virose das
Caneluras do Tronco ou Lenho Rugoso As plantas de Niágara afetadas por estas
viroses apresentam caneluras no tronco, sob a casca, inclusive no
porta-enxerto. As caneluras (Figura 9a) são ranhuras longitudinais que
correspondem ao local onde a casca penetra no lenho do tronco (Figura 9b),
trazendo como conseqüência a má formação dos vasos condutores da seiva. As
plantas doentes, em geral, diminuem o vigor e as gemas brotam mais tardiamente.
A casca do tronco é mais grossa e de aspecto corticento e escamada. Também pode
ocorrer na região da enxertia uma diferença de diâmetro entre o enxerto e o
porta-enxerto. A morte de plantas pode ocorrer a partir de 6 e 8 anos de idade
e até mais cedo, quando o porta-enxerto é muito sensível.
Fig. 9a.
Sintoma da virose das caneluras do tronco. (Foto: G.B.Kuhn)
Fig. 9b.
Virose das caneluras do troco, detalhe da casca penetrando no lenho. (Foto:
G.B.Kuhn)
Todas estas
viroses são transmitidas pelo material de propagação da videira. Até o momento
não foi constatada a transmissão dos vírus através das ferramentas como a
tesoura de poda, canivete para enxertia, etc. Na Europa já está comprovado que
espécies de cochonilhas transmitem alguns vírus do Enrolamento da Folha e do
Complexo Rugoso. No Brasil, estudos estão sendo conduzidos e ainda não se tem
resultados conclusivos se as espécies que ocorrem nos nossos vinhedos são ou
não vetoras de vírus. Recomenda-se, portanto, que se faça um controle rigoroso
das cochonilhas, não só pelos sérios danos físicos que causam à cultura mas,
também, pela possibilidade de transmitirem vírus. A substituição de variedades
copa, devido a problemas de mercado ou de produtividade, antendo-se os
porta-enxertos originais é uma prática comum adotada pelos viticultores em
algumas regiões do Brasil. Essa prática, embora permita a substituição rápida
da variedade copa sem interrupção de um ano de produção, oferece grandes
riscos, pois se o portaenxerto estiver infectado, a nova copa também será
contaminada. Dessa forma, quando não se tem a garantia da sanidade do material
original, é recomendável o arranquio das plantas e o plantio de novos
porta-enxertos sadios para serem enxertados com garfos sadios.
Os
principais prejuízos causados pelas viroses estão relacionados a queda
acentuada da produção, diminuição do teor de açúcar da uva, maturação irregular
e deficiente, diminuição da longevidade e morte de plantas.
Controle:
Como no campo não é possível fazer o controle químico das viroses, o único modo
seguro de se implantar um vinhedo sadio é adquirindo o material de propagação
(porta-enxerto e copa) livre de vírus. Para isso deve-se obter o material
propagativo (mudas, estacas, garfos) de viveiristas que multipliquem material
sadio sob fiscalização dos órgãos oficiais. A idoneidade da origem do material
propagativo é de fundamental importância pois, no momento da aquisição, tanto
de mudas como de estacas de porta-enxertos e garfos das produtoras,
dificilmente se poderá visualizar sintomas no caso do material estar infectado.
Somente com o desenvolvimento das plantas no vinhedo é que o produtor vai se
dar conta que adquiriu material contaminado.
Tabela 1.
Fungicidas registrados no Ministério da Agricultura, pecuária e Abastecimento
para controle das doenças fúngicas da videira.
Ingrediente
ativo Produto
Comercial
Formulação Classe Toxicológica
Dose (g ou
mL/100 L) P.C.
Modo de ação
Azoxystrobin
Amistar GrDa IV 24 S
Benalaxyl +
macozeb Galben-M PM I 200 a 250 S
Captan 500
PM PM I 240 C
Captan SC SC
I 400 C Captan
Orthocide
500 PM I 240 C
Carbendazim
Derosal 500 SC SC I 100 S
Bravonil 500
SC I 400 C
Bravonil 750
PM PM I 200 C
Bravonil
Ultrex GrDa I 150 C
Isatalonil
PM I 200 C Daconil BR PM I 200 C
Daconil 500
SC I 300 C
Chlorothalonil
Dacostar SC
I 400 C
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